Terceiro filme da série 'Cloverfield' é lançado 'de surpresa' pela Netflix

Longa produzido por J.J. Abrams foi anunciado durante a final do futebol americano e lançado horas depois

RODRIGO SALEM
Los Angeles

O diretor, produtor e roteirista J.J. Abrams provou, neste domingo (4), que ainda há espaço para surpresas em Hollywood. Durante um dos intervalos comerciais da final do futebol americano, sua produtora, a Bad Robot, anunciou que o terceiro filme da franquia “Cloverfield” estaria disponível na Netflix logo depois da partida.

Foi um movimento que pegou o mercado de surpresa. “The Cloverfield Paradox”, dirigido por Julius Onah, estava no planejamento da Paramount desde o ano passado para estrear nos cinemas com o nome “God’s Particle”. Havia um rumor de que o novo presidente do estúdio, Jim Gianopulos, não estava contente com o desenvolvimento e que pensava em vender os direitos internacionais para a Netflix para minimizar os possíveis prejuízos –como acontecerá com o longa “Annihilation”, de Alex Garland (“Ex Machina”).

Mas a negociação nunca foi sacramentada em público. A ficção científica, passada no universo de “Cloverfield – Monstro” (2008), teve a data de fevereiro de 2017 marcada pelo estúdio. Provavelmente porque os executivos da época se animaram com os números da primeira sequência, “Rua Cloverfield, 10”, que rendeu US$ 110 milhões, contra um orçamento pequeno de US$ 15 milhões –mesmo sem divulgação nenhuma até dois meses antes do lançamento.

A data não serviu. E veio o primeiro adiamento para outubro do ano passado, depois para fevereiro de 2018 e, por fim, abril. Mas janeiro chegou e nada do filme ganhar imagem, pôster ou trailer. O projeto, então, foi retirado do calendário oficial da Paramount. Como geralmente acontece com longas que mudam de datas, os boatos sobre a (falta de) qualidade do longa começaram a assombrar os corredores de Los Angeles.

Cena do terceiro filme da franquia “Cloverfield”, "The Cloverfield Paradox"
Cena do terceiro filme da franquia “Cloverfield”, "The Cloverfield Paradox" - Netflix via AP

As comparações internas eram com “Vida” e “Passageiros”, duas obras de ficção científica recentes que naufragaram com crítica e público. De acordo com o site especializado “Vulture”, Abrams estava impedindo o lançamento da produção, adicionando novas cenas e narrações para distanciar a trama escrita por Oren Uziel e Doug Jung daqueles longas passados no espaço. Mas não deve ter sido totalmente bem-sucedido.

Afinal, o agora batizado “The  Cloverfield  Paradox” foi anunciado pelo Netflix durante o Super  Bowl e disponibilizado três horas depois. Nada parecido havia sido tentado em Hollywood. A jogada de marketing, do ponto de vista promocional, é certeira: como JJ Abrams adora mistérios, sempre ficará a dúvida se o lançamento da obra foi orquestrado desde o início ou movido pela insatisfação da Paramount com o produto final.

Do lado da Netflix, foi uma vitória. Ainda não foi revelada a quantia desembolsada pela empresa para a aquisição, mas a ação surpresa e inédita foi uma das mais comentadas nas redes sociais do fim de semana. Além disso, ela adquire uma franquia de prestígio que casa perfeitamente com a tendência de ficção científica que serve de destaque da programação da companhia.

O FILME

Há uma terceira questão: “The  Cloverfield  Paradox” segue a linha dos anteriores, longas surpreendentes e de baixo orçamento? Não. O filme é uma coleção de clichês e diálogos que tentam esconder a mediocridade do texto com termos científicos que fariam Gene Roddenberry corar de vergonha.

Ele se passa quase que inteiramente em uma estação em órbita da Terra em um futuro próximo. Prestes a entrar em uma nova guerra mundial por causa dos poucos recursos naturais restantes, a população do planeta acredita que um acelerador de partículas neste satélite pode resolver a crise energética. O processo dá errado e os astronautas terminam se perdendo no espaço e, aparentemente, em outra dimensão.

Enquanto tentam consertar o erro, os tripulantes começam a sentir os sintomas de invadir um novo universo paralelo. O filme passa, então, de uma ficção científica meio rasteira para um horror espacial que recicla todos os truques inventados pela série “Alien”.

Não há muita tridimensionalidade nos personagens. A Hamilton de Gugu Mbatha-Raw é a única que merece detalhes, mas eles não são muito sedutores: seguem a linha de “Gravidade” com uma sub-trama do marido, que fica na Terra –criando uma intersecção forçada entre o novo e o original, claramente adicionada após os primeiros testes com a trama apenas no espaço.

Daniel Bruhl interpreta um cientista capaz de fazer a estação reencontrar a Terra e a nossa dimensão, mas não procure entender a lógica por trás das suas motivações ou descobertas. As cenas mais dramáticas de “The Cloverfield Paradox” remetem à “Missão: Marte” (2000), quando fica quase impossível segurar a gargalhada com alguma morte ou desmembramento grotesco.

O desempenho do filme entre os críticos não deve importar para a empresa. “Bright”, com Will Smith, também foi destruído pela crítica, mas gerou bons números para a Netflix, que anunciou a sequência. Já “Cloverfield 4”, batizado neste momento de “Overlord”, já foi totalmente filmado pelo diretor Julius Avery (“Sangue Jovem”) e é um thriller ambientado na Segunda Guerra Mundial.

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