Uma Thurman afirma a jornal que sofreu assédio de Harvey Weinstein

Atriz relata ataques e diz que, confrontado, produtor ameaçou destruir sua carreira

São Paulo

A atriz Uma Thurman afirmou que foi uma das vítimas do produtor de cinema Harvey  Weinstein durante entrevista concedida ao jornal "The  New York Times".

"A parte complicada do sentimento que tenho sobre Harvey é [ligado a] como me sinto com relação a todas as mulheres que foram atacadas depois de mim", ela disse ao jornal.

A atriz falou em tom de autocrítica sobre sua experiência como protagonista de filmes produzidos por Harvey Weinstein.

"Eu sou uma das razões pelas quais uma jovem garota iria entrar sozinha no quarto dele, como eu mesma fiz. Quentin [Tarantino, diretor] usou Harvey como produtor executivo de 'Kill Bill', um filme que simboliza o empoderamento feminino. E todas elas marcharam em direção ao matadouro porque foram convencidas de que ninguém que chega a essa posição faria algo ilegal contra elas, mas eles fazem".

Em outubro, durante uma entrevista no tapete vermelho de um evento de lançamento do espetáculo "The Parisian  Woman" (a mulher parisiense, em inglês), na Broadway, a atriz disse que queria deixar a raiva passar antes de falar sobre a onda de casos de assédio reportados em Hollywood.

"Na verdade", corrige-se agora, "eu estava com mais medo de chorar".

Thurman tinha 16 anos quando sofreu o primeiro assédio. Ela conta que foi a uma balada e conheceu um ator 20 anos mais velho do que ela que a coagiu.

"Eu tentei dizer não, chorei e fiz tudo que poderia ter feito. Quando eu cheguei em casa, fiquei em pé na frente do espelho e olhei para as minhas mãos e estava tão brava por não estarem sangrando ou machucadas", disse. 

A atriz Uma Thurman durante um desfile da grife Dior em Paris em 2017
A atriz Uma Thurman durante um desfile da grife Dior em Paris em 2017 - REUTERS

Na entrevista, Thurman afirma que conheceu Weinstein e sua primeira mulher após o sucesso de "Pulp  Fiction" (1994).

"Eu o conhecia bem antes de ele me atacar", disse. Ela lembrou que Weinstein dedicava horas para bajulá-la em um período que ela "não era uma querida dos grandes estúdios", e que isso pode tê-la feito "menosprezar os sinais de alerta".

Ela disse que o primeiro episódio de assédio aconteceu em Paris, quando ambos estavam discutindo sobre o roteiro de um filme e o produtor teria tirado o roupão na frente da atriz.

"Não me senti super ameaçada", disse Thurman; "pensei que ele estava sendo idiossincrático, que era algo similar a manias de um tio excêntrico".

Segundo a atriz, o produtor a disse para segui-lo por um corredor que terminava numa sauna. "Eu estava vestindo uma jaqueta de couro; estava quente demais ali e em dado momento eu disse: 'Isso é ridículo, o que você está fazendo?' Harvey acabou ficando muito nervoso e desistiu".

Thurman afirma que depois desse incidente ocorreu o primeiro ataque propriamente dito, em uma suíte de hotel em Londres. "Ele me empurrou para baixo, tentou se mostrar para mim e fez vários tipos de coisas desagradáveis. Mas não conseguiu nada. Eu tentei fazer o que pudesse para tudo voltar ao normal." 

No dia seguinte, segundo a atriz, o executivo mandou flores amarelas com um bilhete dizendo que ela tinha grandes instintos.

Thurman afirma ainda que logo depois, em novo encontro, alertou Weinstein: "Se você fizer com outras pessoas o que fez comigo, você vai perder sua carreira, sua reputação e sua família, eu juro".

Em resposta, ela diz que o produtor ameaçou destruir sua carreira no cinema.

Por meio de um porta-voz, Weinstein negou ter ameaçado prejudicar a carreira da atriz, e disse que a considera uma profissional brilhante. Ele reconheceu seus relatos sobre os episódios, mas disse que até o episódio da sauna em Paris, ambos tinham "uma relação divertida e baseada em flertes".

No comunicado, Weinstein afirma que reconheceu ter cometido um erro com Thurman na Inglaterra, "após entender errado seus sinais em Paris", e que imediatamente se desculpou.

PARCERIA ABALADA

Thurman afirma que sua declarada inimizade com Weinstein após esses episódios acabou prejudicando sua parceria criativa com o diretor Quentin Tarantino.

Em seu relato, a atriz afirma que em 2001, durante o Festival de Cannes, o diretor Quentin Tarantino teria notado que ela ficava desconfortável ao lado de Weinstein. Ele teria perguntado o porquê, ao que ela teria respondido relembrando o diretor sobre os incidentes.

Thurman afirma que primeiro Tarantino não pareceu levar a acusação a sério, mas que depois o cineasta resolveu confrontar o produtor executivo.

Naquela noite, Weinstein a procurou para dizer que estava magoado e surpreso com as acusações relatadas pela atriz a Tarantino. Ela diz que reiterou os relatos e que, em dado momento, o olhar de Weinstein mudou de agressivo para envergonhado. Na sequência, ela diz, ele pediu desculpas.

Perguntado pela reportagem, Weinstein confirmou esse pedido de desculpas.

As denúncias de assédio sexual e estupro contra Harvey  Weinstein, 65, foram o estopim para uma avalanche de acusações em Hollywood.

O outrora poderoso produtor executivo foi acusado de ter assediado e estuprado mulheres ao longo de três décadas. Entre as vítimas estão Angelina Jolie, Ashley Judd e Gwyneth Paltrow. Bob Weinstein, irmão de Harvey, também foi acusado de assédio.

 

ASSÉDIO SEXUAL

Confira a seguir um resumo sobre os principais casos de assédio sexual e estupro em Hollywood reportados recentemente.

Harvey Weinstein
No caso que foi o estopim para a avalanche de acusações em Hollywood, o outrora poderoso produtor de 65 é acusado de ter assediado e estuprado mulheres ao longo de três décadas. Entre as vítimas estão Angelina Jolie, Ashley  Judd e Gwyneth  Paltrow. Bob Weinstein, irmão de Harvey, também foi acusado de assédio.

Kevin  Spacey
O ator de 58 anos foi acusado pelo colega Anthony Rapp de o ter assediado fisicamente quando a vítima tinha 14 anos. O ator mexicano Roberto Cavazos fez acusações semelhantes. Após as acusações, a Netflix suspendeu a última temporada da série "House of Cards" e afastou o ator do programa, além de cancelar o lançamento do filme "Gore", protagonizado por Spacey.

Louis C.K.
O comediante e diretor de 50 anos confirmou as acusações de assédio sexual feitas contra ele por cinco mulheres, publicadas em reportagem do "New York Times". Em dois relatos, o comediante se masturbou em frente a atrizes sem o consentimento delas. Após as denúncias, a estreia do filme "I  Love  You, Daddy", de Louis  C.K., foi cancelada. A Netflix também cancelou a produção de um especial com o comediante.

James Toback
Segundo o "Los Angeles Times", mais de 30 mulheres denunciaram o diretor e roteirista de 72 anos de cometer assédio sexual. Autor da reportagem, Glenn Whipp disse ter sido contatado por 193 mulheres com acusações semelhantes contra Toback, autor do roteiro de filmes como "Bugsy" e "O Apostador".

Roman Polanski
Além de ter estuprado uma garota de 13 anos em 1977, o cineasta franco-polonês de 84 anos também é alvo de, pelo menos, outras quatro acusações contra mulheres menores de idade, entre elas a atriz Charlotte Lewis. Em Paris, uma retrospectiva de sua obra foi alvo de críticas por um grupo feminista.

Dustin Hoffman
O ator que tem hoje 80 anos é acusado de ter assediado sexualmente a escritora Anna Graham Hunter, então com 17 anos, no set do telefilme "A Morte de um Caixeiro-Viajante", em 1985. Ele teria falado de sexo para ela e a apalpado. Hoffman se desculpou e disse que aquilo não "reflete" quem ele é.

Brett Ratner
A atriz Natasha  Henstridge diz ter sido forçada a fazer sexo oral no diretor de "A Hora do Rush" e "X-Men: O Confronto Final" nos anos 1990. Além dela, outras atrizes e modelos, como Olivia  Munn e Jaime Ray Newman, também relatam casos semelhantes envolvendo ele. Rattner, 48, nega as acusações.

Ed Westwick
O ator conhecido por "Gossip Girl" foi acusado de estupro por Kristina  Cohen e Aurélie  Wynn. Ele nega. A polícia de Los Angeles abriu investigação sobre o primeiro caso. Com isso, a BBC suspendeu a exibição "Ordeal  by  Innocence". As gravações já iniciadas da segunda temporada de "White Gold", da Netflix, também foram suspensas.

John Lasseter
O diretor da Pixar e dos filmes "Toy  Story" e "Vida de Inseto" decidiu tirar licença de seis meses após admitir erros ligados a condutas de assédio sexual. Colaboradoras reclamaram de um excesso "invasivo" de abraços e outras situações desconfortáveis.

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