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Mais que uma personalidade, Jacques Cousteau foi uma marca. As cores de suas roupas azuis, dos cabelos brancos e da boina vermelha afirmavam um orgulho nacional tão francês e fixaram no imaginário de várias gerações sua figura de aventureiro, de desbravador em programas que passavam e repassavam toda semana na TV.
Mas quem foi o homem Cousteau, além da imagem que ele construiu laboriosamente?
“A Odisseia”, escrito e dirigido pelo francês Jérôme Salle, tenta dar conta dessa face oculta, reconstituindo, segundo o molde tradicional da cinebiografia, diversas etapas da vida do oceanógrafo francês.
Para alcançar essa camada apagada pela imagem oficial, o filme dedica bastante espaço ao filho predileto de Cousteau, morto num acidente aéreo em 1979.
A história começa com esse acontecimento marcante e recua até as origens, valorizando o relacionamento instável entre Jacques (Lambert Wilson) e Philippe (Pierre Niney) como principal recurso dramatúrgico.
Não há nenhuma intenção de danificar a figura heroica do capitão do Calipso, o barco que conduziu a equipe de Cousteau por décadas e milhas náuticas, ao mesmo tempo que serviu de casa para sua família.
Seu papel de proa não é questionado, mas o esforço maior é demonstrar como a personalidade narcisista e fantasista de Cousteau se apoiava em outras pessoas que ficaram à sombra.
A mais importante dentre elas é Simone, primeira mulher do capitão, que não só vendeu suas joias para financiar o sonho de transformar o Calipso em casa flutuante, como fazia o papel de âncora para o marido e administrava a vida cotidiana no barco.
Pena que a máscara de eterno enfado que Audrey Tautou empresta à personagem bloqueie uma empatia maior por Simone.
Phillipe, por sua vez, é quem mais se distancia do pai, criticando-o, mas também aprendendo a negociar com a figura paterna e midiática.
Mas a intenção de equilibrar o personagem, distinguindo-o do mito forjado por Cousteau, vai por água abaixo à medida que o filme cede à tentação da bela imagem.
Todo esboço de drama logo se dilui na profusão de cenas do pôr-do-sol, de peixinhos e peixões e da imensidão azul, postas ali para seduzir e distrair.
Esse tipo beleza pronta não chega a agregar valor. Basta compará-la com a dramaticidade que Cousteau e Louis Malle conseguiram obter no documentário “O Mundo Silencioso” (1956) para ver que a natureza, tal como filmada por Jérôme Salle, não passa de cenário.
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