Artistas mineiros, Aleijadinho e Maria Auxiliadora são expostos no Masp 

Artistas inauguram programação do museu dedicado à cultura africana 

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São Paulo

Aleijadinho, de mãe escrava e pai português, é síntese o processo de formação social do país e referência na arte sacra dos períodos barroco e rococó, define Rodrigo Moura, curador de uma nova mostra do escultor brasileiro. 

 


Em 2018, o Masp dedica as exposições às histórias afro-atlânticas. O ciclo começa nesta sexta (9) com a abertura, para convidados, de mostras de dois mineiros: Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, e a pintora Maria Auxiliadora (1938-1974). 


“Imagens do Aleijadinho” conta com 37 esculturas do artista, além de fotografias e pinturas de outros artistas que contribuem para a compreensão da importância na história brasileira. 


Ele inaugurou, segundo Moura, “a figura da mestiçagem e do mulatismo na história brasileira”. Curiosamente, Aleijadinho nunca foi retratado em vida. Por isso, os trabalhos com o que seria seu rosto diferem em cores e formas. 


Durante a época colonial, o escultor transmitiu nas obras importante testemunho dos hábitos religiosos e culturais da sociedade mineira.

“As esculturas permitem a compreensão de como um artista no contexto colonial da América e refere aos modelos europeus, sobretudo ao barroco e o rococó, mas também absorve a visualidade africana na América e no contexto da história racial presente em Minas Gerais, já que no final do século 18, os negros e pardos compunham 80% da população”, diz o Moura.


A maioria das esculturas dispostas no primeiro andar do museu já estiveram em altares de igrejas. Mas Moura não quis recriar as cenografias religiosas. “O objetivo é que as obras sejam protagonistas na mostra”, diz. 


Para isso, elas estão dispostas dentro de vidros e suspensas todas na mesma altura. “A exposição também conversa com a arquitetura de Lina Bo Bardi”, explica o curador, em referência, por exemplo, aos cavaletes de vidro instalados no segundo andar do museu, em vez de obras nas paredes. Para Moura, a ausência de hierarquias traz à exposição “fluidez e isonomia”. 

"Banhistas" (1973) de Maria Auxiliadora
"Banhistas" (1973) de Maria Auxiliadora - Jorge Bastos/Divulgação

DE VOLTA AOS HOLOFOTES

Após hiato de quase 40 anos, obras da artista mineira Maria Auxiliadora voltam a ser expostas em museus. 


Se nos anos 1970 Maria era rotulada de “primata”, “naif” e “popular” por não ter estudos tradicionalmente nas artes, agora é caracterizada como autodidata pelo Masp.


Para Fernando Oliva, curador da mostra dedicada à artista morta aos 39 anos, em 1974, os termos que a rotularam contribuíram para a limitação da exposição de Maria à época que estava viva. 


Dividida em nove momentos, como “Autorretratos”, “Casais”, “Interiores”, “Manifestações populares”, “Candomblé, umbanda e orixás” e “Rural”, a mostra pincela a carreira da artista por meio de 82 pinturas em óleo sobre tela. 


Para Oliva, as obras dela transmitem resistência. Ele explica que “naquela época, o racismo era muito mais forte do que hoje em dia. Ela era negra, mulher e oriunda de uma família humilde, e suas obras traduzem isso”. 


Cores vibrantes e formas geométricas permeiam o trabalho dela que foi exposto na Bienal de Veneza e outras mostras de peso internacionais. 


Apesar de ter vivido em uma época na qual o racismo era ainda mais presente, Maria não retrata os negros em condições desfavoráveis, mas refletindo um otimismo perante à vida, afirma Oliva.


Maria desenvolveu uma técnica de relevo, presente em alguns dos quadros, que enaltece as características afrodescendentes do corpo, como cabelos, nádegas e seios. 


De uma família de artistas, em que 10 dos 18 irmãos foram pintores e filha de rendeira, a artista também incorpora às obras texturas de tecidos e rendas. A fim de retomar a exposição de obras da artista, o curador espera que a mostra desperte o interesse de pesquisadores por ela. 


Maria e Aleijadinho dividem o mesmo museu durante o mesmo período. Para os curadores das mostras, as semelhanças dos artistas transcendem as origens. Segundo Oliva, ambos podem ser considerados autodidatas, já que desenvolveram técnicas por meio dos estudos próprios. 


Além disso, Moura vê proximidade entre eles na utilização de relevos como formas de expressão e na reprodução de discursos sobre a cultura afro. Maria, porém, aborda o tema de modo mais aberto por ser “muito mais assumida do que na época do Aleijadinho”.

IMAGENS DO ALEIJADINHO/MARIA AUXILIADORA: VIDA COTIDIANA, PINTURA E RESISTÊNCIA DA OBRA

QUANDO abre na sex. (9) para convidados e no sáb (10) para o público e vai até 10/6; ter. a dom., das 10h às 18h e qui., das 10h às 20h 
ONDE Masp, av. Paulista, 1.578
QUANTO R$ 30 (inteira)

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