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Artes Cênicas teatro

Com inventividade cênica, 'MPB' tropeça no roteiro turístico

Sob direção de Jarbas Homen de Mello, elenco mantém vivacidade mesmo quando as piadas são sofríveis

NELSON DE SÁ
São Paulo

MPB - MUSICAL POPULAR BRASILEIRO

  • Quando qui. e sáb., às 21h, sex., às 21h30, dom., às 20h; até 15/7
  • Onde Teatro das Artes - shopping Eldorado, av. Rebouças, 3.970, tel. (11) 3034-0075
  • Preço R$ 50 a R$ 100
  • Classificação 12 anos

Apesar de reunir vários profissionais exitosos do gênero no país, como o diretor Jarbas Homem de Mello, o diretor musical Miguel Briamonte, a coreógrafa Kátia Barros e a protagonista Adriana Lessa, este "MPB - Musical Popular Brasileiro" fica distante de mostrar "a cara do Brasil", seu propósito declarado no programa.

O espetáculo mostra antes um estranho descompasso com o pouco de realidade contemporânea —social, étnica, política— que acaba vazando para a cena.

Cena do espetáculo "MPB - Musical Popular Brasileiro"
Cena do espetáculo "MPB - Musical Popular Brasileiro" - João Caldas/Divulgação

Assim como o cambaleante musical anterior de um de seus roteiristas, "O Bixiga" (2010), "MPB" tropeça, entre muitos exemplos, quando sai a defender "mulata", tanto a expressão hoje questionada quanto a exploração sexual que envolve —algo que a própria Rede Globo abandonou em sua Globeleza, a começar da palavra.

Como em "Bixiga", são negros os atores usados pelos roteiristas Edu Salemi e Enéas Carlos Pereira, vindos da TV, para os ataques seguidos ao "politicamente correto". E atores com a trajetória de Lessa, que surgiu há três décadas em "Macunaíma", e Érico Brás, que veio do Bando de Teatro Olodum.

De maneira geral, o problema é que "MPB", ao que parece conscientemente, emula o teatro musicado de um século atrás, nacionalista, dos tempos de Estado Novo, num momento em que a realidade socioeconômica brasileira pede qualquer coisa, menos ufanismo e bordões turísticos.

É palpável o constrangimento da plateia com diversos diálogos e também figurinos, em que pese a inventividade cênica e musical que Mello e equipe vão acumulando no palco. Inventividade que surge até em detalhes, caso dos movimentos criados para membros do coro como a bailarina Leilane Teles.

A maior qualidade talvez esteja na atuação —e no entusiasmo, ao menos durante a estreia— de seus 18 intérpretes.

O que se tem em cena, refletindo o diretor de atores que é Mello, é uma vivacidade que segue em frente mesmo quando as piadas originais são sofríveis ou assustadoras, como ao fazer rir da morte de Hebe Camargo.

Brás e Reiner Tenente (este o talentoso Cosmo Brown de "Cantando na Chuva", no ano passado) formam uma dupla cômica à altura da homenagem que procuram fazer a Grande Otelo e Oscarito. Quase externos à trama central, em aparentes "números de cortina", eles ameaçam seguidamente roubar o espetáculo.

Giulia Nadruz, também com personagem que à primeira vista contrasta com a trama, consegue dar forma cada vez mais consistente e engraçada à sua advogada que quer ser artista. Encerra a apresentação como uma das mais bem resolvidas facetas de "MPB".

Mas o resultado do espetáculo é desigual, com mais qualidade em alguns quadros e outros que deveriam ser abandonados por inteiro.

Uma sensação de barafunda que talvez venha a ser diluída com algumas semanas do espetáculo em cartaz —ou que teria caído nas pré-estreias, ferramenta que o teatro comercial no país teima em não adotar.

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