Descrição de chapéu novela

De época, novela 'Tempo de Amar' se encerra com temas atuais

Folhetim que se passa no início do século 20 chega ao fim após pincelar temas como assédio sexual e febre amarela

Marisa Orth e Tony Ramos com figurino de ‘Tempo de Amar’
Marisa Orth e Tony Ramos com figurino de ‘Tempo de Amar’ - Marília Cabral/TV Globo
 
Sarah Mota Resende
São Paulo

"Tempo de Amar", novela das 18h da Globo que se passa no início do século 20, chega ao fim nesta segunda-feira (19) tendo pincelado temas bem atuais, como assédio sexual e febre amarela.

Na trama de Alcides Nogueira, Olímpia (Sabrina Petraglia) é uma jornalista que luta pelos direitos femininos. Depois de ser assediada pelo dono de uma revista, ela relata sua experiência num grêmio cultural para conscientizar outras mulheres. Num dos encontros, uma participante conta ter sido bolinada num bonde.

O episódio lembra ocorrido em agosto de 2017, em São Paulo, quando um homem se masturbou em uma passageira de um ônibus. O caso ganhou repercussão porque um juiz soltou o acusado afirmando que não houve constrangimento.

"Fomos fundo no combate ao machismo e ao assédio. Colocamos o que de fato acontecia na época e que por uma infeliz coincidência ainda temos que lutar contra nos dias atuais", diz Nogueira.

Outra abordagem atual foi a febre amarela. Em 1929, de fato, o Rio de Janeiro viveu um surto da doença.

Na história, é Geraldo (Jackson Antunes) quem adoece. "A epidemia voltou a assolar nosso país. Perguntei se ele tinha tomado a vacina. Disse que não. Ele precisa ser internado", afirmou o médico Reinaldo (Cássio Gabus Mendes).

Segundo balanço divulgado em março pela Secretaria Estadual de Saúde, em São Paulo, desde o ano passado, 326 casos da doença foram registrados —sendo 116 mortes.

RADIONOVELAS

Para o crítico de TV Nilson Xavier, "Tempo de Amar" lembra as antigas radionovelas.

"O autor apresenta um texto perfeito. Dá gosto ouvir todos os personagens falando o português culto", escreveu em seu blog no portal UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha. "É um texto que pesa no melodrama, quase soturno, e não há alívio cômico, o que a aproxima ainda mais das radionovelas."

Maurício Stycer, colunista da Folha e crítico de TV, também abordou o assunto. "A trama é muito bem escrita e armada. É um folhetim clássico, um novelo que vem se desenrolando lentamente com um pé nas novelas de rádio e sem a preocupação de querer agradar com facilidades."

Marisa Orth, que interpreta a cantora de fado Ermínia, concorda com a comparação.

"Se a gente pensar que as novelas de rádio conseguiam uma mobilização enorme da população, 'Tempo de Amar' conseguiu, com uma trama aparentemente simples, níveis de audiência e engajamento muito grandes."

Em números, o folhetim não supera a antecessora, mas também não faz feio. A média foi de 23 pontos em São Paulo (1 ponto de equivale a 71.855 domicílios), um a menos que "Novo Mundo". Antes disso, "Sol Nascente" fez 21 e "Eta mundo Bom!" marcou 27.

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