Descrição de chapéu

Emily Beecham tem atuação formidável e conduz 'Daphne'

Falta ambiguidade à trama sobre mulher na crise dos 30

São Paulo

Daphne

  • Quando estreia nesta quinta (8)
  • Elenco Emily Beecham, Geraldine James, Tom Vaughan-Lawlor
  • Produção Reino Unido, 2017, 16 anos
  • Direção Peter Mackie Burns

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O primeiro longa-metragem do diretor escocês Peter Mackie Burns é "Come Closer", filme que exibia um tanto de ficção sob o rótulo de documentário que lhe impuseram. Com "Daphne", seu segundo longa, não tem conversa. Trata-se mesmo de uma ficção.

É mais um filme sobre uma mulher que atravessa a crise dos 30, após o francês "Jovem Mulher", de Léonor Serraille, que estreou em nosso circuito comercial no final de 2017.

No filme de Serraille, temos uma narrativa um tanto trôpega, que o talento da atriz franco-suíça Laetitia Dosch trata de colocar nos trilhos de alguma maneira.

Cena do filme Daphne
Emily Beecham é Daphne, uma auxiliar de cozinha de 31 anos que sonha em se tornar subchefe - Divulgação

Em "Daphne", o diretor parece entender que é melhor deixar sua protagonista conduzir o filme. Temos assim a circunstância ideal para o brilho da atriz inglesa Emily Beecham, num papel que tem tudo para ser um divisor de águas em sua carreira.

A personagem título é uma auxiliar de cozinha de 31 anos que sonha em se tornar subchefe, mas está num momento em que o desconforto é geral e flagrante, e as ruas de Londres lhe parecem ao mesmo tempo sórdidas e convidativas para noites de bebedeira.

É uma mulher de falas diretas e modos confrontadores. Num primeiro encontro, já avisa ao pretendente que é melhor não esperar nada dela para evitar decepções. Ao psiquiatra, questiona a coleção inteira de "Harry Potter" que enfeita a estante do consultório. 

A relação com a mãe é tudo, menos pacífica. Para piorar, sua grande rival no restaurante é uma mulher mais velha, de posição mais alta na hierarquia, que a detesta, não sem motivos. 

"Daphne" tem parentesco claro com o perturbador "À Procura de Mr. Goodbar" (1977), de Richard Brooks, no qual Diane Keaton é uma mulher de seus 30 anos que sai às noites à procura de liberdade, mas só encontra estupidez por todos os lados, sobretudo a estupidez masculina, começando pelo pai.

Ao contrário da urbanidade hostil do filme de Brooks (segundo Vincent Canby, do New York Times, é uma cidade não identificada, que ora lembra Nova York, ora Los Angeles), a Londres do filme de Burns não é tão ameaçadora, apesar de um assalto acompanhado de esfaqueamento que Daphne testemunha logo no início. 

Do mesmo modo, os homens que cercam a protagonista são muito mais sensíveis e compreensíveis em "Daphne", indicando que se ela resolver seu problema interno terá amplas condições de superar a crise.
Falta, evidentemente, neste novo filme, a ambiguidade que servia de base ao longa de 1977.

Hoje em dia as coisas devem ficar lamentavelmente mais claras, e as elipses, mesmo quando bem pensadas, não procuram exigir muito do espectador a não ser uma compreensão maior da maneira contemporânea de se narrar visualmente.

Essas limitações não impedem que este pequeno filme inglês, com uma atriz formidável, esteja acima da média da produção contemporânea.
 

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