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Empresa nega ser patrocinadora de prêmio literário suspeito

Reprodução do site do Babel Book Award, que levantou suspeitas entre escritores
Reprodução do site do Babel Book Award, que levantou suspeitas entre escritores - Reprodução
Maurício Meireles
São Paulo

Um prêmio literário misterioso, o Babel Book Award, tem causado, nos últimos dias, furor no meio literário ao despertar suspeitas de que possa ser falso.

O troféu, desconhecido no país, promete em seu site pagar 200 mil euros (cerca de R$ 802 mil) a quem vencê-lo --e pede que escritores de língua portuguesa enviem um romance original por meio do site babelbookaward.com.

A estrutura do site, em alemão e português, já causava desconfiança em escritores. Um anúncio, inclusive, foi publicado na revista literária Quatro Cinco Um deste mês. 

O estopim da polêmica foi quando Paulo Werneck, editor da publicação, soube das suspeitas em comentários em redes sociais e pediu que ninguém se inscrevesse até que o caso fosse esclarecido.

"Fechamos o anúncio após ver o prêmio anunciado no site Publishnews e negociamos o valor. Mas não temos como identificar quem era realmente a pessoa, porque todos os anúncios só são pagos depois de publicados", diz ele, que publicou uma nota no Facebook nesta quinta (1º).

"Estamos interpelando a pessoa que negociou conosco para verificar a veracidade. O problema central é iludir escritores. Fui editor e sei como as pessoas investem a vida num projeto literário. Estamos revoltados." 

A Folha entrou em contato com uma das empresas apontadas como patrocinadora do troféu literário, a Toniic, consultoria de investimentos baseada nos Estados Unidos, disse à Folha jamais ter ouvido falar no prêmio.

"Não somos de forma alguma patrocinadores e não temos ideia de por que nosso logo está no site dele", disse a empresa, em nota.

Outro motivo de suspeita é a foto do suposto curador, Andreas A. Fiedler --uma busca simples no Google mostra tratar-se de um jornalista russo chamado Armen Gasparian (procurado, o jornalista não respondeu até a conclusão desta edição).

Werneck conta que trocou mensagens com uma mulher identificada como Claudia Müller --com quem a Folha trocou alguns e-mails nos últimos dias tentando uma entrevista. Procurada, ela disse que o prêmio é real e que o vencedor será anunciado em julho --mas não revelou o nome do jurado brasileiro, "um importante teórico da literatura". Ela, que não respondeu aos pedidos para uma conversa de vídeo via

Skype, diz que só falará com jornalistas dia 12/3.

O domínio do site do prêmio foi criado dia 24/1 e a página colocada no ar 31/1. Ela está registrada no nome de Vítor Germano, desenvolvedor que diz ter sido procurado por alguém da organização com pressa para disponibilizar a página.

"Saliento que sou um prestador de serviço de desenvolvimento de layouts de sites, não sendo proprietário ou responsável por conteúdos inseridos", diz ele.

Ele não deu mais detalhes, mas a reportagem apurou que o pagamento pelo serviço foi feito por um homem chamado César Mutter, cujo nome de usuário no Skype é um nickname feito a partir de Julio Barros Carvalho. Ele está supostamente baseado em Berlim. Procurado, Mutter não respondeu as tentativas de contato.

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