Exposição 'Leather Forever' mostra trajetória do couro como artigo de luxo

Acervo da francesa Hermès, marca mais exclusiva do segmento, estará no shopping Iguatemi

Pedro Diniz
Paris

Matéria-prima nobre da criação de moda, o couro é disputado pelas grifes, tanto pela dificuldade de encontrar material de qualidade nos curtumes, quanto pela versatilidade de seu uso em bolsas, casacos e sapatos.

Pela primeira vez, o país receberá parte de um dos acervos mais relevantes da história da indumentária contada por meio desse material.

A marca francesa Hermès, a mais exclusiva do segmento e que tem uma lista de espera só de clientes em busca de versões das suas bolsas Kelly e Birkin, ocupará o estacionamento do shopping Iguatemi, na zona sul de SP, com a mostra "Leather Forever" (Couro para Sempre).

Será a maior exposição do gênero feita por uma grife de luxo em solo nacional. Itens como um porta-luneta do início do século 20 e uma das primeiras bolsas com fecho de pressão do mundo estão entre as relíquias da mostra, que já rodou Ásia, Itália, Espanha e Reino Unido.

Os objetos fazem parte do Museu Émile Hermès, instalado no prédio da grife em Paris, e do conservatório, acervo gigantesco de objetos feitos sob encomenda estocados em Pantin, na região metropolitana da capital francesa.

Entre as dez criações do conservatório, algumas explicam como os artesãos da marca lidam com as excentricidades dos clientes.

Um carrinho forrado com couro de bezerro e metais revestidos de ouro, datado de 1949, foi um presente do duque de Windsor a sua amada, Wallis Simpson (1896-1986), feito sob medida para que ela guardasse luvas e perfumes.

Uma bolsa cilíndrica, de 1974, foi criada para o então presidente da marca, Robert Dumas, para que ele guardasse pedras das praias da Normandia que costumava colecionar. Até um porta-maçã, de couro verde e desenvolvido para um cliente que comia uma dessas frutas todos os dias, entrou na seleção.

Mas, para entender o fascínio que a marca exerce sobre quem pode pagar milhares de euros por uma sela de montaria da grife —produto que colocou a Hermès no radar da elite no final do século 19—, a curadoria de bolsas é um capítulo à parte.

Nas oito salas que formam a exposição há diversos modelos que contam o pioneirismo da grife em identificar as necessidades dos clientes, para além da estética.

Exemplo emblemático é a Malette, primeira bolsa da marca a receber, por volta de 1920, uma base de couro enrijecida para se sustentar em viagens de carruagem ou trem. A combinação do zíper às fivelas foi considerada inovadora para a época.

Émile Hermès, aliás, foi o primeiro a usar o aviamento em acessórios de moda na França, e a marca ainda guarda os protótipos de zíper que chegaram às suas mãos, vindos dos Estados Unidos.

Segundo o diretor da marca na América Latina, Eric Grellety Bosviel, a mostra procura exprimir a singularidade da Hermès por meio da riqueza da matéria-prima, das cores, da criatividade, do universo do cavalo, "nosso primeiro cliente", e as conexões entre o passado e o presente.

"Não temos pretensão de fazer parte da história do couro no Brasil, mas vale lembrar que nossa relação com o país começou já em 1922, quando os irmãos Hermès vieram para a Exposição Internacional do Centenário da Independência [no Rio] para mostrar nossos objetos pela primeira vez", diz Bosviel.

Por questões logísticas, porém, não desembarcará um dos tesouros do museu da marca que mais têm a ver com o país: uma mala para guardar joias e prataria que pertenceu a Teresa Cristina Maria (1822-1889), mulher de dom Pedro 2º e imperatriz do Brasil até o fim da monarquia.

Para relacionar a própria história à do país, a marca criou dois modelos de bolsas inspirados no trabalho do artista plástico Felipe Jardim, que serão postas à venda em edição limitada na loja da grife.


HERMÈS LEATHER FOREVER

QUANDO de 6 a 22 de abril, diariamente, das 12h às 19h

ONDE estacionamento do shopping Iguatemi São Paulo, av. Brigadeiro Faria Lima, 2.232

QUANTO grátis

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