Descrição de chapéu

Filme que ironiza classes sociais, 'Madame' peca ao trocar paródia por comédia romântica

Atriz Rossy de Palma interpreta empregada na produção francesa

Cássio Starling Carlos
São Paulo

Madame

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Toni Collette, Harvey Keitel e Rossy de Palma
  • Produção França, 2017. 90 min
  • Direção Amanda Sthers

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A troca de lugares —entre brancos e negros, homens e mulheres, pobres e ricos, héteros e gays— é um dos temas mais clássicos da comédia, com a inversão sendo usada para ridicularizar o que parece fixo e “natural”. A situação reaparece em “Madame” com a intenção de ironizar as hierarquias sociais e examinar a falta ou não de classe.

Toni Collette interpreta Anne, americana metida a besta casada com Bob (Harvey Keitel), um rico à beira do precipício financeiro. Ela decide, então, promover um jantar, reunindo um pequeno grupo de amigos influentes para impedir o naufrágio.

Mas a chegada inesperada do enteado eleva para 13 o número de presentes. Para afugentar qualquer ameaça numerológica, a anfitriã obriga a governanta Maria (Rossy de Palma) a sentar-se à mesa interpretando o papel de uma amiga, desde que permaneça calada para não revelar sua “natureza” de criada.

Em seu segundo longa, a diretora e roteirista Amanda Sthers procura pontos de apoio firmes para compensar sua relativa inexperiência. O principal recurso é o trio de intérpretes autossuficiente, cujas imagens se confundem com as dos personagens.

Outra escora eficiente é a opção pelo aspecto teatral numa longa cena de jantar, momento central do filme. Ali, o deslocamento da ação de um par a outro e o ziguezague verbal ilustram até a caricatura os comportamentos de uma certa fatia que se supõe herdeira da extinta nobreza.

Esta situação também sustenta e desencadeia o conflito principal entre a patroa, que acredita controlar tudo, e a empregada, que escapa do controle à medida que se embriaga. De um lado, está o teatro social, feito de máscaras e poses, essencialmente falso. A ele se opõem a espontaneidade e a liberdade associadas à verdade. 

O momento bem resolvido, contudo, não dura o filme inteiro e a aproximação entre Maria e um convidado ilustre obriga a diretora a amenizar o tom, substituindo a acidez inicial pela doçura que, ao final, ganha nota amarga.

A passagem da paródia à comédia romântica obriga “Madame” a abandonar o ardil inicial até diluir o que antes poderia ser promissor.
 

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