Filme retrata tristeza profunda de personagem que vive a separação

Com tema simples, 'Todas as Razões para Esquecer' tem abordagem direta

GUSTAVO FIORATTI
São Paulo
Bianca Comparato e Johnny Massaro em cena do filme "Todas as Razões para Esquecer", de Pedro Coutinho
Johnny Massaro e Bianca Comparato em cena de “Todas as Razões para Esquecer”, filme de Pedro Coutinho - Divulgação

Não é um filme que, quando acaba, deixa o espectador pensando "não sei se entendi". Longe disso. "Todas as Razões para Esquecer", longa de estreia de Pedro Coutinho (direção e roteiro), tem um tema simples e abordagem direta: apresenta a história de um rapaz que sofre o fim de um relacionamento.

O ator Johnny Massaro, que está na novela das sete "Deus Salve o Rei" (Globo) é quem dá vida ao protagonista. Já na segunda cena ele se depara com o rompimento.

A ficha, porém, só vai cair algumas cenas adiante, com todo o turbilhão que um estreante no grupo dos recém-separados tem direito.

Para traçar o percurso, as câmeras ficam na cola do protagonista do início ao fim, e não vai haver cena sem ele. "O filme é sobre esse limbo dentro da gente nesse momento: a relação ainda existe, e a outra pessoa ainda está dentro da gente mas não está mais fisicamente presente", diz Coutinho.

Essa "outra pessoa", no filme, quem interpreta é a atriz Bianca Comparato.

Uma opção "tão clara e tão direta" de roteiro, como descreve o diretor, busca que "o espectador fique concentrado na história o tempo inteiro", diz. "Esse sempre foi meu objetivo. A partir de um conflito simples, criar uma narrativa que mostre o personagem passando por altos e baixos".

Em sua trajetória, ele será amparado por amigos, a prima, a psicanalista (Regina Braga). O vizinho festeiro (Thiago Amaral), que tem na porta da geladeira o adesivo "I Love Anal", assume o papel de uma espécie de Gato que Ri do livro "Alice no País das Maravilhas". Acompanha o sofrimento alheio mas não deixa o humor cair.

Com o filme pronto, Coutinho localiza-o entre dois circuitos, dos comerciais e dos experimentais. "Hoje temos esses filmes de comédia que fazem altas bilheterias, às vezes com linguagem televisiva demais, e filmes que vão para uma coisa mais de cinema de autor. Acho que meu filme tenta se encaixar no meio".

Tinder e tarja preta

A universalidade do tema torna quase óbvia uma questão que a reportagem apresenta: há algo de autobiográfico na história? "Tem pedaços de coisas minhas e coisas que eu escuto de amigos."

Coutinho já esteve tanto na condição de quem termina como na de quem foi deixado. Mas quando exemplifica situações reais levadas ao roteiro, prefere falar dos outros.

Há o momento em que o protagonista entra no Tinder, aplicativo de relacionamento, mas não quer abrir mão do próprio anonimato. "Amigos meus me falaram sobre esse momento. Será que entro ou não? Será que as pessoas vão me ver ali?", conta.

Ao fundo, retrata-se ainda uma São Paulo de distâncias curtas, delimitada entre o centro e Perdizes e na fartura de remédios psiquiátricos.

O baixo orçamento contou, e o apartamento do diretor é inclusive usados entre as locações. "Escrevi um roteiro que, além de simples, previa simplicidade de produção."

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