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‘King Size’, do suíço Christoph Marthaler, trafega entre sonho e realidade 

Em cartaz nesta terça (6), espetáculo aborda casal que tenta se conectar, mas não se comunica

MLB
São Paulo

Um dos grandes nomes do teatro europeu contemporâneo, o suíço Christoph Marthaler costuma trazer aos seus espetáculos personagens com um quê patético. Mas é com um olhar benevolente que o encenador vê essas figuras, realçando a beleza das fraquezas humanas e de situações em princípio tristes.

Em “King Size”, que terá sua última sessão nesta terça (6), na MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, o suíço trafega entre sonho e realidade. Mas o faz permeando a narrativa de melancolia e de certa comicidade.

A montagem é construída como um “Liederabend”, tradicional recital de música noturno, cujas origens remontam ao século 19 e no qual se interpreta um pot-pourri de canções. 

Coloca em cena um casal (a soprano norueguesa Tora Augestad e o tenor e comediante suíço Michael von der Heide) dentro de um tradicional quarto de hotel.

“Somos duas pessoas que estão tentando se conectar, mas não nos comunicamos. Estamos no mesmo quarto, mas de certo modo não estamos juntos”, explica Augestad à Folha num intervalo de ensaios no Sesc Vila Mariana, onde o espetáculo será encenado. “É como uma noite melancólica de música.”

A conexão da dupla vem por meio das 22 canções que costuram a narrativa, cantadas ora na íntegra, ora em trechos. O repertório trafega por seis idiomas (sueco, francês, italiano, inglês, alemão e suíço-alemão) e vai de temas clássicos, caso de Schumann ou Mahler, a composições pop, como as dos grupos The Jackson 5 e The Kinks. 

E Marthaler, ele próprio músico (oboísta e flautista), acaba criando sons heterogêneos com composições de diferentes tonalidades –combinações chamadas de enarmônicos.

É uma forma, diz a cantora, de não apenas debater o que é o teatro musical, mas o que é a canção popular hoje. “Quando cantamos Schumann, estamos deitados na cama ou em posição inusitada. Quando interpretamos na frente do palco, com a postura ereta, como faríamos num tradicional ‘Liederabend’, cantamos pop. Marthaler geralmente tira a música de sua narrativa tradicional.”

SONHO

Não é claro, em “King Size”, se o que se vê é sonho ou realidade. “Por vezes, parecemos fantasmas, essas fronteiras [entre real e onírico] estão sempre borradas”, diz Von der Heide.

O casal em alguns momentos dança, surge cantando debaixo da cama ou dentro de um armário. A dupla é acompanhada no palco por um homem (Bendix Dethleffsen, que passa pelo lavabo e logo assume o piano) e uma senhora (Hildegard Alex), personagens que reforçam os ares de absurdo da narrativa. Numa das cenas, Alex, despretensiosa, come com as mãos um espaguete frio de dentro de sua bolsa.

“Certa vez o dramaturgo [do espetáculo, Malte Ubenauf] disse que não somente a cama é king size, mas 

também os sonhos desses personagens”, comenta Augestad. “É na música e no devaneio do casal que encontramos a esperança deles.”

Tudo é feito num tom lento, quase um “nada acontecer” contemplativo que marca os trabalhos de Marthaler –para o diretor, um teatro que “agrada a todos” é sempre um teatro suspeito.

PROCESSO

“King Size” foi criado na Basileia (Suíça) em meados de 2013 e desde então rodou duas dezenas de países. A concepção foi feita em parceria com Augestad e Von der Heide, que sugeriam e ajudavam a dar corpo às canções.

“Foi um processo bem corrido. Tivemos um mês de ensaio e depois Marthaler quis trocar todas as músicas”, lembra a cantora, que à época dividia um apartamento com seu companheiro de cena.

“Aproveitávamos o caminho no tramway para ensaiar. E não tivemos nem uma pausa sequer para almoço durante esse tempo. Marthaler nunca tinha fome, e nós tínhamos que trabalhar”, ri ela.

 

KING SIZE
QUANDO ter. (6), às 21h
ONDE Sesc Vila Mariana, r. Pelotas, 141, tel. (11) 5080-3000
QUANTO R$ 15 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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