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Luto inspira 1º romance de Tiago Ferro

Em 'O Pai da Menina Morta', autor usa forma fragmentária para falar de morte de filha e rejeita rótulo de autoficção

MAURÍCIO MEIRELES
São Paulo
O escritor e editor Tiago Ferro
O escritor e editor Tiago Ferro, que lança seu primeiro romance - Renato Parada/Divulgação

A forma fragmentária —com textos em primeira e segunda pessoa, listas, verbetes— reflete o fato de que nada é capaz de estabilizar o narrador de "O Pai da Menina Morta", romance do editor Tiago Ferro que chega agora às livrarias.

O romance começou a ser escrito ao fim da fase mais aguda do luto que o escritor atravessava. Em março de 2016, sua filha de oito anos morreu em decorrência de uma miocardite —inflamação no músculo do coração capaz de causar uma parada cardíaca—, uma complicação causada por um tipo mais agressivo de gripe.

Escritores e editores acompanharam consternados a dor pública do autor. Em julho daquele ano, Ferro publicou um depoimento na revista Piauí sobre a história. Em maio de 2017, começou a escrever o romance.

"Fui aprofundando a fragmentação, deixando um pouco como um diário alucinado. Chega um momento em que não importa se é segunda ou sábado", diz Ferro.

"[Aí] entram questões relativas à busca desse narrador por uma forma de estar presente, não ser um exilado no próprio grupo."

Embora o luto esteja ali, o autor não considera ser esse o tema principal do livro —no centro, há o deslocamento depois da perda, a necessidade de se ajustar diante de uma ausência, a tentativa de se encontrar de novo na sociedade.

Apesar da referência a uma história que viveu, Ferro também não gosta de definir o romance como uma autoficção

"O narrador vive questões e situações que não são minhas. O que temos em comum é a perda da filha. Busquei investigar na forma literária essa ausência, mas não acho que meu livro faça parte do gênero", afirma.

Ferro acrescenta não estar interessado, como autores da corrente, no "questionamento dos limites entre ficção e realidade". O narrador, por exemplo, não é nomeado (na autoficção clássica, normalmente ele leva o nome do próprio autor).

"Durante a escrita o livro cumpriu um papel, mas não é que ele seja uma cura. Há a sensação de encontrar um sentido, tapar algo que falta. Mas, assim que o livro termina, as questões são colocadas de novo, de outra forma."


O PAI DA MENINA MORTA

AUTOR Tiago Ferro

EDITORA Todavia

QUANTO R$ 44,90 (176 págs.)

LANÇAMENTO nesta quinta (14), na Livraria da Vila - r. Fradique Coutinho, 915, tel. (11) 3814-5811

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