Luzes ajudam a investigar obras de Bauch

Peritos da Biblioteca Nacional usam diversas fontes de iluminação para buscar marcas antigas visíveis no microscópio

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Rio de Janeiro

O segredo é a luz.

Vários tipos de luzes. Luzes frontais, luzes oblíquas. Contraluz. Luz rasante. Luz que viaja numa fibra ótica maleável. Luzes que, com a ajuda do microscópio, mostram o relevo do papel em detalhes. Os trechos remendadas, as partes faltantes

Joaquim Marçal de Andrade, perito judicial e coordenador da análise feita na Biblioteca - Ricardo Borges/Folhapress

Luzes que, somadas às lentes, transformam gotas de tinta em montanhas. Cada montanha projetando sua enorme sombra nas fibras do papel em que foram impressas as gravuras de Emil Bauch.

É dessa forma que a que equipe da Biblioteca Nacional do Rio está fazendo a vistoria técnica para descobrir se as oito obras que estavam na coleção Brasiliana do Itaú Cultural são as mesmas oito que foram furtadas da instituição carioca em 2004 por Laéssio Rodrigues de Oliveira.

Em carta enviada à Folha, o ladrão, que está preso no Rio, afirmou que eram as mesmas. O jornal noticiou o caso na edição de terça-feira passada (13). O Itaú Cultural prontamente se dispôs a entregar as obras para análise (o que fez na quarta-feira, 14), e devolvê-las, caso a perícia comprove serem as mesmas.

A presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo, estipulou que a vistoria fosse feita em cinco dias úteis. O prazo se encerra na quarta (21).

Comparação

Gravuras são obras múltiplas, mas, em 2004, havia apenas duas coleções completas do álbum "Souvenirs de Pernambuco" (1852), com 12 gravuras do alemão Emil Bauch: uma na Biblioteca Nacional e outra no Instituto Ricardo Brennand, no Recife.

O álbum da Biblioteca Nacional foi comprado da Livraria Kosmos em 1942. "Naquela época, as gravuras já traziam marcas peculiares pregressas. Buscamos essa história em relatórios, impressos, manuscritos etc. Essa é a primeira fase", diz Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, perito judicial e coordenador da equipe encarregada da vistoria.

A segunda fase é a das luzes e microscópios. "Temos os recursos mais modernos do país", afirma Maria Eduarda Marques, coordenadora-geral de cooperação e difusão da Biblioteca Nacional.

"Todos os nossos equipamentos estão mobilizados para isso, como o laboratório de restauro [ao qual a reportagem não teve acesso] e o de digitalização."

O fato de a coleção completa ter ficado na biblioteca entre 1942 e 2004 trouxe a essas gravuras uma série de novas marcas peculiares.

"Quando aconteceu o furto, quatro não foram levadas. Ele furtou oito, mas deixou quatro cópias coloridas no meio das originais. Então temos a oportunidade de comparar todas essas com as que estavam no Itaú", diz a diretora do Centro de Coleções, Maria José Fernandes.

Lavagem química

Um obstáculo é que as gravuras do Itaú parecem ter sido lavadas com um produto químico, pois estão mais brancas do que seria de se esperar. "Qualquer leigo sabe que uma lavagem dessas abrevia a duração de uma obra em suporte de papel", alerta Jaime Spinelli, diretor de Conservação e Restauro.

A equipe está fazendo um levantamento de outras peças furtadas por Laéssio Rodrigues e/ou seus comparsas.

Segundo a coordenadora do Acervo Especial, Mônica Carneiro Alves, Laéssio consultou 31 álbuns de gravuras em 2004 e deu-se falta de obras em 14 deles (sendo que um é o de Emil Bauch).

Já em 2005, quase mil peças da Biblioteca foram afanadas pela quadrilha. Dessa feita, no entanto, a maior parte foi de fotografias.


CRONOLOGIA

Para entender o caso

2004
Laéssio de Oliveira subtrai oito gravuras de Emil Bauch da Biblioteca Nacional

2005
O Itaú Cultural adquire oito gravuras de Bauch do colecionador Ruy Souza e Silva

2014
O Itaú Cultural inaugura sua mostra permanente, exibindo seis das oito gravuras

13.mar.2018
Folha
noticia o caso; Souza e Silva afirma ter comprado obras em loja de Londres 

14.mar.2018
Itaú entrega as obras à Biblioteca Nacional para perícia, que deve durar cinco dias úteis

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