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'O Terceiro Sinal' chega ao Teatro Oficina com nova roupagem

Peça com Bete Coelho dialoga com arquitetura local; cenas antes só narradas ganham encenação

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MLB
São Paulo

Pela primeira vez no palco do Teatro Oficina, o espetáculo "O Terceiro Sinal" reestreia nesta sexta-feira (23) bastante reformulado.

Antes um solo com Bete Coelho, a montagem agora ganha reforço de outros cinco intérpretes. Também dialoga com a arquitetura de Lina Bo Bardi e com o palco em forma de corredor do teatro.

"Dá à peça a dimensão que ela merecia", afirma Bete. "A gente não deveria nunca ter feito em outro lugar."

Isso porque o texto de Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, é baseado na experiência do jornalista no próprio Oficina. Ali interpretou o personagem Caveirinha em "Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, numa montagem de 2000 com o grupo do diretor Zé Celso.

O ensaio em primeira pessoa do jornalista foi publicado no livro "Queda Livre" (Companhia das Letras), em 2003, e adaptado ao teatro sete anos depois, com interpretação de Bete e direção de Ricardo Bittencourt, que formam a Cia. BR116, ao lado de Gabriel Fernandes.

Em "O Terceiro Sinal", o autor descreve a aflição antes da estreia (fez apenas três ensaios), o pânico de estar em cena (quem sabe, pensa ele, seu desempenho passaria batido) e a sensação, para quem atua, de que o tempo é suspenso.

"Ele metodifica e revela esse processo subjetivo da atuação", afirma Bittencourt.

Também pensa sobre os teóricos da interpretação, como o russo Stanislávski e o francês Diderot, de quem lembra uma frase: "As lágrimas do comediante lhe descem de seu cérebro; as do homem sensível lhe sobem do coração".

BASTIDORES

"Estar no Oficina é, para o ator, uma situação de muita fragilidade, muita exposição e, ao mesmo tempo, de muita força", comenta Bete, que protagonizou ali o espetáculo "Cacilda!" (1998).

Assim, a nova versão de "O Terceiro Sinal" aproveita a arquitetura do teatro, com suas estruturas e bastidores à mostra do público —essa exposição era representada nas apresentações anteriores, feitas em tradicionais palcos italianos, por coxias transparentes.

Os camarins de madeira desenhados por Lina para o teatro foram levados para o palco, fazendo as vezes de cenário. "Estamos colocando o Oficina dentro do Oficina", explica Bittencourt, que é ex-integrante do grupo de Zé Celso.

Além disso, momentos que antes eram apenas narrados pelo personagem de Bete agora ganham uma encenação.

Quando o narrador lembra de colegas de "Boca de Ouro", por exemplo, o restante do elenco de "O Terceiro Sinal" entra em cena, representando essas figuras. "Antes, a peça valorizava mais a palavra, agora ganha movimento", afirma Bittencourt.

Tudo é acompanhado por vídeos, tanto reproduções ao vivo do que acontece no palco —o que é praxe em montagens do Oficina— quanto de imagens de arquivo da companhia Zé Celso.

Para os integrantes da BR116, contudo, estar no Oficina não tem apenas um lado afetivo, mas também político.

Eles lembram do imbróglio entre o teatro e o Grupo Silvio Santos, proprietário do terreno vizinho, onde tem planos de erguer torres residenciais. A companhia alega que a construção "encaixotaria" o teatro, que é tombado, e propõe criar ali um parque.

"Estar aqui é um ato político", diz Bete. "Estou especialmente estimulada a fazer isso neste momento em que o Brasil está adormecido."

O TERCEIRO SINAL

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