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O fim da Guerra Fria, três décadas atrás, fez o cinema perder os bons inimigos, enquanto a TV aproveitou a ascensão de outra ameaça, o terrorismo, para garantir o emprego de agentes como Jack Bauer e Carrie Mathison.
"Operação Red Sparrow" não ressuscita a ameaça vermelha, mas escolhe os russos, em sinal de nostalgia dos velhos tempos, como representação do biopoder, com suas formas de controle mais sorrateiras, difusas e eficientes. Além disso, os russos são brancos, de olhos claros e bonitos, enquanto o estereótipo do terrorista ainda é árabe, de pele escura e feio.
A impactante sequência de abertura dispõe os personagens centrais polarizados entre a liberdade e disciplina. De um lado, um agente da CIA escapa, apesar de ter cometido uma falha, de outro, uma bailarina do Bolshoi exibe uma beleza que depende de muito rigor.
As ações são mostradas em paralelo, o mais antigo recurso do cinema para dizer "nós" e "eles".
Cá, ele é louro, tem corpão e é movido por senso de justiça. Lá, ela é... Jennifer Lawrence, o que dispensa comentários. Ou seja, em algum momento a geopolítica vai ajudá-los a dar uns pegas.
Ele é interpretado por Joel Edgerton, bom ator de segunda grandeza. Ela, por sua vez, até já ganhou um Oscar. Logo, durante duas horas Jennifer Lawrence não sai de cena nem para trocar de roupa.
Quem gosta do gênero pode se perguntar: "Operação Red Sparrow" é um filme de espionagem? Sim. Mas o tipo de trama tem muito pouca importância em relação ao peso de Lawrence no conjunto.
De fato, o filme é um clássico "star vehicle", tipo de produção que toda indústria do cinema explora para dar a uma estrela condições para brilhar no máximo e, assim, arrancar trocos de seus fãs.
Como Lawrence está no apogeu, o filme capricha nos valores de produção e oferece um resultado visual bastante atraente. O investimento também aparece no elenco de apoio, recheado de bons e ótimos atores, que não jogam o jogo apenas como burocratas.
Mas tudo isso torna "Operação Red Sparrow" um filme que é preciso correr para ver? Não.
Quem perder deve reencontrá-lo em breve no Netflix e lá, em meio à concorrência pesada, qualquer episódio de "The Americans" parecerá mais excitante.
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