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Ricky Gervais leva seu humor provocador à Netflix

'Humanidade' é o primeiro show do comediante no gênero desde 'Science' (2010)

Teté Ribeiro
São Paulo

Humanidade

  • Onde na Netflix

Assistir a um stand-up de Ricky Gervais é garantia de ao menos duas coisas: risadas e vergonha alheia.

O provocador master volta a falar sobre suas piadas polêmicas, não pede desculpa por nada e, mesmo quando finge explicar por que uma piada não era preconceituosa, faz isso tirando sarro de tudo e de todos no caminho.

Foto mostra o comediante Ricky Gervais fazendo gesto de atenção com a mão, sobre o palco com luzes azuis
Cena do show de stand-up "Humanity", da Netflix - Ray Burmiston/Divulgação

"Humanidade", seu primeiro show do gênero desde "Science" (2010), mostra um comediante em pleno domínio de seus talentos.

É bem escrito e bem atuado. Curto, 79 minutos apenas, não perde tempo em provar que ele está ali para entreter, mas à sua maneira, sem autocensura e sem acenos ao politicamente correto.

Ele começa o show falando de um de seus assuntos de predileção: animais. Diz que acha que Deus inventou as funções que cada raça de cachorro ia ter logo no começo da criação do Universo.

Labradores vibram quando recebem a notícia de que vão ter que trazer patos mortos para os seus donos caçadores. Já os rhodesian ridgebacks ficam bem menos empolgados quando Deus conta que eles vão caçar leões.

Fala da vida pessoal também, conta como é ser um novo milionário e por que ele e a namorada, Jane, com quem vive há muitos anos, decidiram não ter filhos: superpopulação e investimento sem garantia de retorno.

Tem muitas piadas boas ("meu cérebro reconhece antes de mim que uma peruca entrou em um ambiente onde estou"). Mas o espetáculo diz a que veio quando Gervais tenta explicar que as piadas que fez com Caitlyn Jenner na apresentação do Globo de Ouro de 2016 não eram preconceituosas.

Ele diz que foi vítima de um tipo de reação na mídia e na internet que despreza, --mas na verdade parece se deliciar com ela.

Foi acusado de "deadnaming" ("chamar pelo nome morto") a transexual, quando diz à plateia que fique calma, que ele não vai ser tão provocador, mudou muito —mas não tanto quanto Bruce Jenner.

Depois volta a cutucá-la dizendo que, depois de virar mulher, não fez um bom trabalho para representar as mulheres no trânsito —Caitlyn Jenner esteve envolvida em um acidente fatal e foi acusada de ter sido beneficiada pela Justiça por sua condição de celebridade.

Gervais usa a dissecação de cada detalhe das piadas para fazer quase um estudo sobre a ofensa e concluir que, nessas situações, só perde quem se sente ofendido.

Ele faz piadas dizendo que jamais falaria tal tipo de coisa, porque entende a diferença entre o foco e o conteúdo de uma gag. Mas faz o oposto do que promete, em uma sequência muito divertida e tensa ao mesmo tempo.

Outro foco de atenção são os tuiteiros com quem briga. Ele conta brevemente as trocas de mensagens, chega a uma especialmente irritante que recebeu e conclui: "Eu devia ter deixado por isso mesmo". O que, é claro, não faz; parece fixado em ter a última palavra. E sempre tem a mais engraçada.

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