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Em seu primeiro longa-metragem de ficção, a libanesa Jihane Chouaib discute um assunto do qual seus compatriotas não podem escapar: os traumas da longa guerra civil (1975-1990) que devastou o país. A questão central é a dolorosa relação entre memória e esquecimento ligados ao conflito.
Exilada há muito tempo na França, a jovem Nada (Golshifteh Farahani) retorna ao povoado natal no Líbano e se instala no casarão da família, onde passou a infância, que está abandonado e quase em ruínas. Ela volta com um propósito: descobrir o que aconteceu com o avô, desaparecido misteriosamente durante a guerra civil, quando ela era criança.
A família —com a qual ela pouco se relaciona— e os habitantes do lugar, reprovam a iniciativa, pois escolheram o silêncio para evitar lidar com o sentimento de culpa. Seu irmão Samir (Maximilien Seweryn), que também vive no exterior, não demora a voltar, mas com intenções muito diferentes: vender a casa.
Nada dedica seu tempo a investigar. Conversa com uma tia, com alguns moradores do vilarejo, mas não arranca nada. O reencontro com a casa desperta recordações da infância e do avô, apresentados em flashbacks e sonhos.
Presa às próprias lembranças e a um passado que mitifica —o avô seria um herói de guerra— Nada tenta montar esse quebra-cabeça. Mas ela não tem elementos para fazer a investigação avançar, para desenterrar o silencio em torno do avô. Mesmo quando um miliciano lhe diz que o avô não era um santo, ela tampouco consegue verificar a informação.
Assim como a busca, a narrativa, também não avança, parece girar constantemente em falso. Quando Nada e o irmão partem para o sul com a intenção de seguir uma nova pista, a expectativa acaba se frustrando.
Não há dúvida que o ponto de partida é bastante interessante, mas as fragilidades do roteiro de Chouaib —estático e demonstrativo demais— impedem que o espectador se interesse pela busca.
Em meio a essa esterilidade, o casarão da família –com sua montanha de lixo no que um dia foi o jardim, suas paredes com marcas de balas, restos de sangue e cobertas por desenhos feitos pela jovem quando era criança– representa com muito mais eloquência do que a narrativa em si o peso do passado, suas glórias, misérias e enigmas.
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