Saiba como algumas das bolsas mais caras do mundo são confeccionadas

Uma única alça pode demandar meio dia de trabalho de um artesão

Pedro Diniz
Paris

O que leva uma única bolsa a custar quase R$ 400 mil? Nos ateliês de couro da Hermès, na cidade de Pantin, descobre-se na prática que, hoje, o luxo é precificado pelo empenho, pela raridade do material e pelo nível de personalização aplicados à peça.

A matéria-prima define por quais mãos a bolsa será confeccionada. A pele de crocodilo, mais cara e pesada, exige força; as maleáveis, como a de bezerro, delicadeza.

Customização também entra na conta. Se é possível trocar cores de linhas e combiná-las ao tom do couro, é porque há menos máquinas envolvidas no processo e, assim, mais tempo de trabalho.

Um único artesão é responsável por cada obra, o que garante um controle de qualidade que a produção em série não consegue atingir.

Em um momento em que a moda contemporânea investe em máquinas capazes de produzir em minutos, mãos e olhos humanos valem mais do que o peso da etiqueta.

"Tentamos ao máximo não usar maquinário. Ele só é usado quando um modelo tem uma forma que só conseguimos alcançar com corte mecânico", explica um porta-voz do ateliê de couro da marca.

Das fases de confecção que a reportagem foi autorizada a acompanhar —cada grife preserva pequenos segredos para não ser copiada pela concorrência—, a de costura é a que exige mais tempo.

Uma única alça pode demandar meio dia de trabalho, porque os pontos devem estar de tal forma que não machuquem o dono.

Usa-se o mínimo de cola para a peça durar, diz-se, por gerações. Há até famílias que tratam bolsas Hermès como investimento. Em um leilão recente, um modelo Kelly, de crocodilo preto, foi arrematado por R$ 594 mil. No mesmo dia, uma Birkin com fechos de ouro e diamantes foi negociada por R$ 904 mil, valor recorde para uma bolsa.

É claro que não há mais do que algumas dezenas de acessórios assim. Mas eis aí o tempero que não está nos manuais: enquanto houver um mundo inacessível, o sonho se manterá.

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