Descrição de chapéu

Trama esquemática empobrece thriller de motoqueiros

Cena de "Motorrad", de Vicente Amorim
Cena de "Motorrad", de Vicente Amorim - Divulgação
Alexandre Agabiti Fernandez
São Paulo

Depois da desigual cinebiografia "Irmã Dulce" (2014), Vicente Amorim está de volta com uma proposta completamente diferente e pouco usual nas produções nacionais: um filme de ação carregado de suspense e com doses de violência "gore".

A longa sequência inicial, sem diálogos, em que Hugo (Guilherme Prates) rouba um carburador em um ferro-velho para colocar em sua motocicleta já define a estética do filme e procura fisgar o espectador manipulando o suspense.

Isso é feito com enquadramentos vindos das histórias em quadrinhos; uma fotografia em que as cores aparecem rebaixadas, próximas do preto e branco --prefigurando algo soturno, que não tardará a chegar--, e uma montagem trepidante.

Com a moto completa, Hugo finalmente pode se juntar ao grupo de amigos liderado por Ricardo (Emilio Dantas), seu irmão mais velho.

A turma sai para fazer um passeio por uma trilha, até uma cachoeira. No caminho, eles encontram a indecifrável Paula (Carla Salle), uma garota que Guilherme havia conhecido no ferro-velho, que sugere outro destino nas redondezas, um lago.

Os problemas começam pouco depois, quando surgem quatro motoqueiros vestidos de preto, cujos rostos nunca veremos. Por uma razão jamais elucidada, o quarteto persegue implacavelmente o grupo de amigos nesse lugar remoto e inóspito.

O passeio se transforma em excursão aterrorizante, em luta pela sobrevivência marcada por uma violência crescente.

As paragens acidentadas e pedregosas da serra da Canastra se mostram como um labirinto, uma armadilha: os amigos logo se perdem e ficam à mercê dos motoqueiros, que às vezes parecem ter o sobrenatural poder de aparecer e desaparecer, mas isso tampouco é esclarecido.

A caça ao grupo de amigos ocupa bastante espaço na narrativa e aqui tudo é fluxo, movimento frenético. O acosso é filmado com virtuosismo, explorando a velocidade das motos, quedas e saltos.

A trama é propositalmente esquemática, com personagens pouco desenvolvidos --criados pelo quadrinista brasileiro Danilo Beyruth-- e poucos diálogos, pois o que interessa é a ênfase na ação constante.

E é exatamente por isso que o filme derrapa.

Ao se deleitar com a perseguição e a violência, a narrativa despreza algumas perguntas importantes, cujas respostas poderiam enriquecer o filme, oferecendo novos sentidos.

MOTORRAD

DIREÇÃO Vicente Amorim

ELENCO Guilherme Prates, Emilio Dantas, Carla Salle, Juliana Lohmann

PRODUÇÃO Brasil, 2017, 16 anos

QUANDO em cartaz

AVALIAÇÃO regular

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