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Apesar de qualidades, argentina 'Edha' se perde em subtramas

Sylvia Colombo
Buenos Aires

Edha

  • Onde na Netflix

"Edha", primeira produção da Netflix na Argentina, apesar do lançamento pomposo, do diretor premiado (Daniel Burman) e de um bom elenco formado por atores locais, como Pablo Echarri, Juana Viale e Martín Seefeld, o uruguaio Daniel Hendler e o espanhol Andrés Velencoso, não supera a média da teledramaturgia do país.

Cena da série argentina Edha, de Daniel Burman
Cena da série argentina 'Edha', de Daniel Burman - Fabi‡n Trapanese/Netflix/Divulgação

Séries como "Marginal", "História de um Clã" e "Estocolmo" (disponíveis na Netflix no Brasil) são superiores a esse thriller que busca retratar uma quantidade muito grande de elementos da realidade argentina. E este talvez seja seu maior erro.

O roteiro e seus giros inesperados são o melhor do seriado. Mas a premissa, rasa e maniqueísta, não convence.

O mundo é o da moda. De um lado, um ateliê de alta costura dirigido por Edha (Viale), traumatizada pelo suposto suicídio da mãe, um casamento falido com um juiz de má fama e pela presença constante do pai, um trapaceiro que cuida para que a empresa seja abastecida por oficinas ilegais.

Logo, portanto, temos o núcleo marginal da trama, o dos trabalhadores ilegais, em fábricas sem registro, empregando, num sistema praticamente escravo, imigrantes de países mais pobres, aqueles que constituem grande parte das populações das favelas na Argentina.

Pois uma dessas oficinas que abastecem a Edha (a marca leva o nome da costureira) pega fogo; morrem dezenas de empregados, e um processo é aberto por um promotor que tem contas a acertar com a família de Edha.

Esta, por sua vez, crê ter achado, em uma linha de roupas masculinas, a fórmula do sucesso deixada pela mãe; mas, para isso, precisa de um excelente modelo. Quem se apresenta? O irmão do capataz da fábrica incendiada, que encontra aí espaço para buscar vingança.

Há subtramas que desviam o foco da tensão principal, como o traficante de subúrbio que se passa por modista, a sócia da mãe de Edha cujo passado vai sendo desvelado. A sensação, mesmo com o mistério revelado, é que o diretor deixou cabos demais soltos, personagens demais sem explicar.

É uma pena que Burman tenha abandonado seu principal talento, que era o de dar a conhecer um país a partir de um bairro, ou uma sociedade a partir de um personagem, como fez tão bem em filmes como "O Abraço Partido", "Dois Irmãos" e "Esperando o Messias".

A opção aqui foi abarcar temas demais: o narcotráfico, o trabalho ilegal, a situação dos imigrantes, a Justiça suja, os dramas psicológicos dos ricos, a dureza da vida nos subúrbios —como se fosse fácil resumir um país em apenas dez episódios.

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