É quase outro William Waack, esse que se assiste hoje por diversas plataformas digitais, entre elas um canal de YouTube, um perfil de Facebook e o site InfoMoney.
É um apresentador que sorri mais, que se irrita e brinca sem constrangimento diante dos intermináveis erros técnicos da produção.
Parece exultante apenas por estar ali, tendo beirado o degredo profissional após a veiculação de uma piada racista, em que reagiu a uma buzina que o incomodava dizendo ser "coisa de preto".
Nos EUA e noutros, não teria retorno, mas, por aqui, é publicamente festejado por ex-colegas de Globo como Fausto Silva e Pedro Bial.
É questionável que tenha, como disse na primeira aparição, ainda se atrapalhando com a música de abertura, "total decisão, controle e autonomia". Ou "nenhum chefe".
Seu Painel WW, que inclui um programa semanal como aquele que fazia na GloboNews e vídeos diários de comentários, é patrocinado pela corretora XP Investimentos, que introduz o mesmo comercial repetidamente nos intervalos desnecessários.
Mais que isso, seus comentários diários são parte do InfoMoney, site da própria XP —semelhante ao Antagonista, ligado à corretora Empiricus.
Após duas semanas de programação, assistida até a última quinta (26), sente-se falta de política internacional, até então sua especialidade.
Ao tratar da alta dos juros e do petróleo no exterior, num dos comentários diários, quase se desculpou: "Vou aproveitar um pouquinho de calmaria na política brasileira e chamar a atenção de vocês para o que está acontecendo lá fora. É importante".
A pauta que tem agora é a política brasileira. Foi o que abordaram as duas primeiras edições do Painel WW, que repetiram a estrutura do programa que tinha no canal de notícias, GloboNews Painel.
O apresentador até confundiu o nome, numa primeira menção, rindo de si mesmo, além de observar, sobre os debatedores: "Os participantes vocês já conhecem, de programas antigos".
O tom algo professoral, condescendente e modorrento dos convidados não funciona na internet como na televisão —onde também entediava, mas com menor estranheza, por serem quase todos assim no canal, fora o noticiário cotidiano.
Mas os erros constantes, de microfonia e até uma campainha que dispara do nada, ajudam a vencer o tédio até que, no terceiro e último bloco, entra a grande novidade: Waack entrega o poder sobre as perguntas para a plateia de universitários.
O efeito é muito diverso daquilo que, na GloboNews, levou à piada de que o canal não precisaria de tantos apresentadores, comentaristas e convidados, porque "todos têm a mesma opinião".
Levantadas por alunos de Uninove e Unip, nas duas primeiras edições, as perguntas introduziram temas ausentes do debate formal até ali, como redes sociais, desequilíbrio na Justiça e fake news.
O resultado são respostas menos óbvias dos três participantes formais.
Quaisquer que sejam as razões, talvez o impacto do episódio "coisa de preto", a distância da Globo ou a simples consciência de estar na internet, é evidente que o apresentador está mais à vontade, desligado do embate ideológico de antes.
Nos comentários diários, gravados por uma câmera limitada diante do que parece ser sua estante de livros, sem gravata e aparentemente sem maquiagem, opinando sobre a conversa do dia na política brasileira, é um youtuber.
Não PC Siqueira ou Felipe Neto, mas desenvolto, improvisando sem travas. Pode-se concordar ou não com ele.
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