Descrição de chapéu
William Waack

Após seu quase degredo, William Waack volta às telas com jeito de youtuber

Demitido da Globo por comentário racista, jornalista estreia programa na internet

Retrato em múltipla exposição de William Waack, durante o 2º Encontro Folha de Jornalismo   - Adriano Vizoni - 19.fev.18/Folhapress
Nelson de Sá
São Paulo

PAINEL WW

É quase outro William Waack, esse que se assiste hoje por diversas plataformas digitais, entre elas um canal de YouTube, um perfil de Facebook e o site InfoMoney.

É um apresentador que sorri mais, que se irrita e brinca sem constrangimento diante dos intermináveis erros técnicos da produção.

Parece exultante apenas por estar ali, tendo beirado o degredo profissional após a veiculação de uma piada racista, em que reagiu a uma buzina que o incomodava dizendo ser "coisa de preto".

Nos EUA e noutros, não teria retorno, mas, por aqui, é publicamente festejado por ex-colegas de Globo como Fausto Silva e Pedro Bial.

É questionável que tenha, como disse na primeira aparição, ainda se atrapalhando com a música de abertura, "total decisão, controle e autonomia". Ou "nenhum chefe".

Seu Painel WW, que inclui um programa semanal como aquele que fazia na GloboNews e vídeos diários de comentários, é patrocinado pela corretora XP Investimentos, que introduz o mesmo comercial repetidamente nos intervalos desnecessários.

Mais que isso, seus comentários diários são parte do InfoMoney, site da própria XP —semelhante ao Antagonista, ligado à corretora Empiricus.

Após duas semanas de programação, assistida até a última quinta (26), sente-se falta de política internacional, até então sua especialidade.

Ao tratar da alta dos juros e do petróleo no exterior, num dos comentários diários, quase se desculpou: "Vou aproveitar um pouquinho de calmaria na política brasileira e chamar a atenção de vocês para o que está acontecendo lá fora. É importante".

A pauta que tem agora é a política brasileira. Foi o que abordaram as duas primeiras edições do Painel WW, que repetiram a estrutura do programa que tinha no canal de notícias, GloboNews Painel.

O apresentador até confundiu o nome, numa primeira menção, rindo de si mesmo, além de observar, sobre os debatedores: "Os participantes vocês já conhecem, de programas antigos".

O tom algo professoral, condescendente e modorrento dos convidados não funciona na internet como na televisão —onde também entediava, mas com menor estranheza, por serem quase todos assim no canal, fora o noticiário cotidiano.

Mas os erros constantes, de microfonia e até uma campainha que dispara do nada, ajudam a vencer o tédio até que, no terceiro e último bloco, entra a grande novidade: Waack entrega o poder sobre as perguntas para a plateia de universitários.

O efeito é muito diverso daquilo que, na GloboNews, levou à piada de que o canal não precisaria de tantos apresentadores, comentaristas e convidados, porque "todos têm a mesma opinião".

Levantadas por alunos de Uninove e Unip, nas duas primeiras edições, as perguntas introduziram temas ausentes do debate formal até ali, como redes sociais, desequilíbrio na Justiça e fake news.

O resultado são respostas menos óbvias dos três participantes formais.

Quaisquer que sejam as razões, talvez o impacto do episódio "coisa de preto", a distância da Globo ou a simples consciência de estar na internet, é evidente que o apresentador está mais à vontade, desligado do embate ideológico de antes.

Nos comentários diários, gravados por uma câmera limitada diante do que parece ser sua estante de livros, sem gravata e aparentemente sem maquiagem, opinando sobre a conversa do dia na política brasileira, é um youtuber.

Não PC Siqueira ou Felipe Neto, mas desenvolto, improvisando sem travas. Pode-se concordar ou não com ele.

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