Biografia do filme de 1968, “2001: Uma Odisseia no Espaço - Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke e a Criação de Uma Obra-Prima” traz tudo aquilo que o leitor desse gênero gosta: minúcias, revelações, detalhes, bastidores, piadas, brigas, disputas de poder, tristezas e alegrias.
E se você gosta do filme, não há como não apreciar esse livro do jornalista Michael Benson. O texto é leve, bem escrito e funciona bem, apesar de jogos de palavras e referências que só fazem sentido no mundo anglófono.
Logo de cara aprendemos que não existia o livro “2001: Uma Odisseia no Espaço” antes do filme. O que aconteceu é que Kubrick contratou Clarke para criarem juntos um roteiro para um filme de ficção científica “realmente bom”.
A confusão é comum porque Arthur C. Clarke já era um dos maiores autores do gênero do mundo em 1964 e existe, sim, um livro homônimo, mas ele foi lançado logo após a estreia do filme.
O primeiro terço da biografia se ocupa da colaboração entre esses dois. Michael Benson nem tenta esconder sua simpatia pelo escritor, talvez porque também seja um, e acha um absurdo Kubrick ter ganho muito mais que Clarke ao vender a produção, ainda incipiente, à MGM.
Curioso é que as filmagens comecem e a história não esteja pronta. Havia cenários complexos e gigantescos, mas não havia um final à vista; não havia nem mesmo o vilão Hal, o supercomputador.
As filmagens são descritas de forma empolgante. Kubrick e sua equipe inventaram uma série de técnicas de efeitos especiais naquela era pré-digital. No mais, como era de esperar, aparecem algumas maldades do diretor com membros do elenco.
Descrita brevemente, uma ótima história é a tentativa de Kubrick de fazer um seguro que o compensasse caso vida extraterrestre fosse descoberta antes do lançamento da obra e seu enredo virasse pó —o filme, afinal, falava do primeiro contato da humanidade com alienígenas. O seguro ficou alto demais e não foi contratado.
Talvez o oitavo, nono e décimo capítulos pudessem sofrer cortes —como os 12% diminuídos do filme, após exibição de-sas-tro-sa aos executivos do estúdio.
O cineasta ficou desnorteado com a estreia: um sexto do público foi embora antes do final. Mas eram os velhos magnatas de Hollywood.
No dia seguinte, as filas chegavam até a esquina. Eram os jovens hippies da contracultura.
Foi o único trabalho de Kubrick que se transformou no filme mais lucrativo do ano.
CURIOSIDADES SOBRE O FILME
Leilão
O modelo da nave Aries 1B Trans-Kunar, que leva os astronautas à base lunar, foi leiloado em 2015 por US$ 334 mil. Quem comprou? A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a que distribui Oscars
Não é para entender
Certa vez Arthur C. Clarke disse: “Se você entende ‘2001’ completamente, nós falhamos. Queríamos levantar mais perguntas do que respondê-las”
Sucesso
A ficção é o maior sucesso comercial de Kubrick. O filme faturou US$ 398 mi em valores atuais (mais que o dobro de "O Iluminado")
Pé na Lua
Esse foi o último filme de ficção no qual o homem pisou na Lua antes de… o homem pisar realmente lá, em 1969
Homenagem
O longa será exibido no festival de Cannes deste ano, com apresentação do diretor de "Interestelar", Christopher Nolan, grande fã de ‘2001’
Nem tudo azul
A valsa "O Danúbio Azul", de Johann Strauss, não era a primeira opção de Kubrick para uma das sequências na estação espacial. O diretor preferia "Sonhos de uma Noite de Verão", de Felix Mendelssohn
Poderia ser maior
De acordo com Douglas Trumbull, supervisor de efeitos visuais, o montante do material filmado dava para fazer algo 200 vezes maior que a versão final (que tem 149 minutos)
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