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Moda

Com planos de virar festival, SPFW acerta em ajustes e desfiles

Segundo dia mostra boas coleções e desejo de se expandir pela cidade

Pedro Diniz Giuliana Mesquita
São Paulo

Prestes a mudar radicalmente, após ter sido comprada pela IMM Participações, a São Paulo Fashion Week parece recuperar sua vocação de plataforma para bons desfiles e de suporte para ações culturais relevantes.

Bem aproveitado, o espaço do Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Ibirapuera, menor que o antigo, na Bienal, também no parque, comportou satisfatoriamente uma exposição de fotos e looks do estilista Conrado Segreto (1960-92), espaços para patrocinadores, que não parecem pontos perdidos, e salas de desfiles de tamanho médio, onde as grifes já mostram querer repensar seu papel na moda.

Nome de apelo internacional, a Água de Coco abriu o evento no sábado (21) apostando em uma versão caricata do Brasil, com um Zé Carioca estampado em roupas estilo Carmen Miranda.

A espetacularização do desfile, algo já visto em tempos de bonança, apareceu logo no início, com a cantora Anitta embalando a trilha ao vivo. Isso pode voltar a ser constante.

Em conversa com a Folha, o presidente da IMM, Alan Adler, disse que irá abrir espaços para convergência da SPFW com música, esporte e gastronomia, por exemplo.

Segundo ele, o modelo de capitalização "naming rights", no qual uma empresa tem seu nome gravado no do evento mediante investimento, não está fora de cogitação, como tampouco está a venda de ingressos para atividades paralelas ao desfile.

O diretor criativo da SPFW, Paulo Borges, expôs, em almoço com a imprensa, sua vontade de expandir o território da semana de moda para outros lugares da cidade, transformando o evento em festival.

É o mesmo modelo do Dragão Fashion Brasil, de Fortaleza, que investiu em shows, palestras e workshops para incluir pessoas comuns no evento antes restrito a convidados.

Os novos acionistas da Luminosidade, que detém a marca SPFW, irão se reunir no final da temporada para discutir novos modelos. Adler afirma que deve haver mudanças já na próxima edição.

Ele também diz que a IMM não estipula prazos para retorno financeiro, mas costuma planejar suas apostas de modo a renderem frutos de três a quatro anos.


críticas

Osklen

A mais internacional das grifes nacionais apostou todas as fichas em seu portfólio de moda sustentável. Couro de pirarucu, algodão orgânico certificado, restos de tecido e fios de PET tomaram a passarela.

O viés urbano se resumia a moletons, calças simples e acessórios utilitários. Uma parceria com a grife austríaca Swarovski levou brilho a aviamentos e bolsas, permitindo que a imagem não soasse sóbria demais.

Chamada "As Sustainable as Possible" (tão sustentável quanto possível), a coleção tem vestidos e moletons impressos com o acrônimo do título em inglês, Asap.

 

 

Uma

O primeiro desfile da segunda-feira (23), da grife Uma, aconteceu fora do parque. No Museu da Imigração, na zona leste, a estilista Raquel Davidowicz mostrou uma coleção de peças versáteis inspiradas no movimento de migrantes.

Com bolsas de náilon a tiracolo, as modelos vestiam camadas de tricô, em peças ora usadas como véu muçulmano, ora enroladas pelo corpo.

Itens utilitários, como pochetes e bolsos espalhados pelas peças, completavam a proposta minimalista da grife.

 

João Pimenta

Único estilista da SPFW dedicado exclusivamente à moda masculina, João Pimenta pega a onda do streetwear de luxo em sua nova coleção.

As referências ao surfe, novo esporte queridinho dos brasileiros, aparecem em detalhes de neoprene aplicado à alfaiataria do designer e ao ótimo trabalho de desarticular a roupa dos surfistas em detalhes como golas e comprimentos.

O xadrez que tomou as passarelas internacionais é uma boa sacada, e chama atenção o trabalho de tricô manual executado com cores vibrantes e sóbrias. O híbrido de roupa de rua e de noite é uma bem-vinda novidade no repertório de Pimenta, que parece querer descolar a imagem feminina da roupa masculina, norte criativo que o tornou famoso.

 

Samuel Cirnansck

Samuel Cirnansck dedicou parte de sua coleção à personagem japonesa Hello Kitty, cuja imagem apareceu em calças e casacos brilhantes, combinados a camisetas gráficas e vestidos bordados.

Dessa parceria veio o melhor look do desfile: uma jaqueta rosa bordada combinada a um vestido marcado.

Especializado em moda festa, o estilista escorregou ao apresentar vestidos que deixavam a desejar no acabamento. Pedaços de tecidos e pedraria caíram das peças enquanto as modelos desfilavam, e as barras de alguns longos também riscaram a passarela com a bainha por fazer.

 

Lilly Sarti

A dupla Lilly e Renata Sarti apresentou coleção coesa, com novas modelagens e paleta de cores rica, que definem como "neolatina". Nas roupas, isso foi traduzido em decotes ombro a ombro, babados em saias fluídas e vestidos transparentes. As calças de cintura alta em chamois foram o ponto alto da coleção, assim como os cintos de amarrações e as bolsas com franjas que devem agradar a clientela.

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