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Contrastes de 'Praça Paris' não conseguem produzir impacto

Diretora Lucia Murat retoma temas como traumas e separações em novo filme

Grace Passô interpreta Glória em "Praça Paris", de Lucia Murat
Grace Passô interpreta Glória em "Praça Paris", de Lucia Murat - Divulgação
Cássio Starling Carlos
São Paulo

PRAÇA PARIS

  • Quando estreia nesta quinta (26)
  • Produção Portugal/Argentina/Brasil, 2017
  • Direção Lucia Murat

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O Brasil com sua história e sociedade definidos por contrastes e contraposições marca o cinema de Lucia Murat. Traumas e separações são temas que a diretora retoma filme a filme sem pretender superá-las, produzindo fortes ressonâncias entre suas experiências pessoais e a memória coletiva, tanto a preservada como a que se tenta apagar.


A imagem do cartaz de “Praça Paris” reafirma essa separação essencial. Face a face, encontram-se Camila (Joana de Verona) e Glória (Grace Passô).

Uma é portuguesa e atende no ambulatório de psicologia de uma universidade, a outra, brasileira, trabalha como ascensorista no prédio da instituição. Uma vive num bairro calmo e namora um fotógrafo, a outra mora no Morro da Providência, onde tiroteios e agressividade policial fazem parte do cotidiano, e visita regularmente o irmão que está preso.

Uma é branca, a outra, negra. Quando Glória procura Camila para começar uma terapia, suas realidades se aproximam e se estranham.

O roteiro assinado por Murat e pelo escritor Raphael Montes em seu primeiro trabalho no cinema desenha cada personagem em sua dimensão particular.

O contorno dado a Glória enfatiza sua inserção social e sua vulnerabilidade a múltiplas formas de violência em casa e na rua, do pai e da polícia, ambos abusadores.

O lugar de paciente numa terapia também torna Glória uma personagem mais complexa, enquanto Camila permanece na escuta e, por razões profissionais, não se expõe.

A distribuição dos tempos de cada personagem também obedece a esse princípio dual, com maior atenção a Glória na primeira metade e a desocultação parcial de Camila na segunda parte do longa.

“Praça Paris”, porém, não alcança o equilíbrio de forças realistas e simbólicas que Murat construiu com a colaboração de Paulo Lins em “Quase Dois Irmãos”, seu melhor trabalho até agora.

Na transição de Glória a Camila, o longa perde fôlego por mais de um motivo. Não apenas a personagem negra é mais substanciosa em conflitos internos e externos, como o desequilíbrio de capacidades entre as protagonistas desorganiza o filme.

Para complicar, as violências que Glória sofre são concretas na imagem, enquanto os medos de Camila ganham expressão em mãos trêmulas, cigarros e comprimidos. 

Ao final, o atropelo de reviravoltas não basta para produzir impacto.

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