Descrição de chapéu

Diretor examina 'A Batalha de Argel' dentro e fora das salas

Argelino recorre exaustivamente a entrevistas para reconstituir obra clássica

Cena de "A Batalha de Argel", de Gillo Pontecorvo, que retrata a luta anticolonial da Argélia contra a França - Divulgação
Cássio Starling Carlos
São Paulo

A BATALHA DE ARGEL, UM FILME DENTRO DA HISTÓRIA (The Battle of Algiers, a Film Within History)

  • Quando Em São Paulo, nesta terça-feira (17), às 15h, no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1000, Liberdade)
  • Preço grátis
  • Produção França/Algéria/Suíça, 2017; 14 anos
  • Direção Malek Bensmaïl

 

O É Tudo Verdade acostumou o público cinéfilo a esperar, em meio ao panorama da safra anual de documentários, títulos que abordam o próprio cinema, o processo de construção de obras que se tornaram referência histórica e, por isso, pedem investigação e não só tributo.

"A Batalha de Argel, um Filme Dentro da História", dirigido pelo argelino Malek Bensmaïl, reconstitui a produção e a repercussão de "A Batalha de Argel", longa do italiano Gillo Pontecorvo (1919-2006) que se transformou em paradigma de cinema político.

Filmado em 1965, apenas três anos após a Argélia conquistar independência da dominação francesa, "A Batalha de Argel" recriou, com uma estética documental, o período mais sangrento do processo de libertação do país norte-africano.

A batalha, de fato, aconteceu em 1957, e designa a brutal repressão conduzida pelo Exército francês para aniquilar os avanços dos rebeldes da FLN (Frente de Libertação Nacional).

Pontecorvo recriou episódios ocorridos entre 1954 e 1957, tornando explícita a política de eliminação e tortura praticada pelos franceses e as táticas de guerrilha e de terrorismo adotadas pelas milícias argelinas.

O documentário de Bensmaïl recorre exaustivamente ao formato de entrevistas para reconstituir, em primeiro lugar, o processo incomum de criação do filme de Pontecorvo.

Os depoimentos de parceiros italianos, como o roteirista Franco Solinas e Giuliano Montaldo, diretor de segunda unidade, são complementados com testemunhos dos profissionais argelinos que participaram da equipe técnica e com lembranças de não atores que viveram papéis no longa.

O projeto de Bensmaïl, no entanto, não se esgota nessa abrangente investigação da gênese de "A Batalha de Argel", pois sua ambição não é fazer um "making of" do filme de Pontecorvo.

A partir desse material, Bensmaïl aborda a herança do longa italiano de variadas perspectivas políticas. Sua premiação no Festival de Veneza em 1966 provocou a reação imediata da França, onde sua exibição permaneceu interditada até 2004.

Na Argélia, por sua vez, o trabalho de Pontecorvo ganhou aura de monumento nacional e passou a ser exibido duas vezes por ano, nas comemorações das datas nacionais. Mas a que e a quem serviu essa monumentalização e o que ela representa?

Além de auscultar essas questões no interior da história argelina, Bensmaïl investiga a influência do filme em outros campos.

Sua natureza insurgente foi assimilada e inspirou projetos rebeldes do final dos anos 1960, como os Panteras Negras nos Estados Unidos e as guerrilhas na América Latina. Não por acaso, ele ficou proibido no Brasil até o fim da ditadura, no início dos anos 1980.

Do outro lado, seu potencial didático continua a ser explorado por exércitos para mostrar o funcionamento de métodos de guerrilha, como no treinamento dado a soldados americanos enviados ao Iraque.

Ambos sinais de que o cinema calculadamente político não se esgota na mensagem.

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