Descrição de chapéu

Em 'Aos Teus Olhos', diretora instala desconfiança no espectador

Intenção não é chegar a uma conclusão, mas fazer o público pensar

Alexandre Agabiti Fernandez
São Paulo

Aos Teus Olhos

  • Classificação 16 anos
  • Elenco Daniel de Oliveira, Malu Galli e Marco Ricca
  • Produção Brasil, 2016. 90 min
  • Direção Carolina Jabor

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​O terceiro longa de Carolina Jabor trata de um assunto atualíssimo, o linchamento moral feito por meio das redes sociais.

Essa barbárie moderna demonstra que a sociedade contemporânea tem os nervos à flor da pele e está pronta para denunciar, condenar e punir alguém, sem qualquer prova, podendo destruir a vida pessoal, a carreira e a saúde mental de seu alvo.

A narrativa apresenta os fatos de maneira a preservar a ambiguidade dos próprios personagens, pois a intenção não é chegar a uma conclusão --apontar se Rubens é culpado ou inocente--, mas instalar a desconfiança no espectador, fazê-lo pensar.

Assim, não vemos Alex, que jamais se manifesta sobre o caso, contar a história do beijo à mãe (Stella Rabello).

Talvez o menino tenha imaginado tudo, talvez tenha sido uma invenção da própria mãe para pressionar o ex-marido (Marco Ricca) --que considera distante do garoto.

Rubens mostra interesse por Alex, incentiva-o com carinho nas aulas, enquanto o pai é muito mais ríspido e exigente em suas cobranças.

Por outro lado, Rubens faz comentários potencialmente maliciosos sobre uma aluna e tem uma namorada (Luisa Arraes) bem mais nova do que ele, o que serve para alimentar dúvidas sobre uma suposta pedofilia.

Essas ambiguidades são constantemente reiteradas nas cenas na piscina. As imagens subaquáticas são geralmente nebulosas; em outros momentos a água é cristalina, mas oferece efeitos ópticos que distorcem o que se vê, reforçando a dubiedade.

A opção de cultivar ambiguidades é interessante, mas acaba empobrecendo o alcance do filme, pois se faz às expensas do aprofundamento de personagens fundamentais, como Alex e seus pais.

Nada sabemos sobre o comportamento reservado do menino, praticamente mudo ao longo do filme, ou sobre sua relação com o pai. Fica claro que há uma tensão entre seus pais, em conflito por conta da separação, mas nada além disso.

A mãe é igualmente pobre, resume-se a uma pilha de nervos e, depois da explosão do escândalo, se dedica ferozmente a propagá-lo. O pai tampouco é caracterizado a contento. É machista, impulsivo e só.

O personagem da diretora do clube (Malu Galli) --que vive um drama particular, espremida entre a avalanche acusatória dos pais e o direito de defesa de Rubens-- tampouco é bem desenvolvido. Mas isso não é tão prejudicial, pois sua função é ter o mesmo dilema do espectador.

 

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