Descrição de chapéu

'Exorcismos e Demônios' parte de proposta singular, mas se rende a clichês

Final do longa de terror insulta a inteligência de quem está assistindo

Thales de Menezes
São Paulo

EXORCISMOS E DEMÔNIOS (THE CRUCIFIXION)

  • Quando estreia nesta quinta (19)
  • Elenco Sophie Cookson, Corneliu Ulici, Ada Lupu
  • Produção EUA, 2017
  • Direção Xavier Gens

Veja salas e horários de exibição

Rodado em 2016, “Exorcismos e Demônios” ficou um ano engavetado antes de estrear nos Estados Unidos e levou mais um ano para chegar aos cinemas brasileiros. Tanta demora é sinal de que algo não cheira bem, e não é enxofre.

É tentador classificá-lo como um filme de terror que não dá sustos em ninguém, o que seria um pecado nesse gênero cinematográfico. Mas, na verdade, é uma subversão desse tipo de história. A intenção parece não ser aterrorizar a plateia, mas sim discutir questões de fé. Boa intenção, mas a realização é fraca.

Difícil reconhecer algum nome na ficha técnica. Xavier Gens é um diretor francês radicado há mais de uma década em Hollywood. O melhor que já fez foi uma boa adaptação de game para o cinema, “Hitman: Assassino 47”, de 2007. A mocinha de “Exorcismos e Demônios” é a inglesa Sophie Cookson. O nome não diz muito, mas ela é a garota agente da espionagem britânica nos filmes da franquia de sucesso “Kingsman”.

O resto do elenco é quase todo romeno, e essa não é a melhor contribuição daquele país à produção. Um dos pontos altos do filme são belas paisagens rurais da Romênia. E o diretor usa e abusa de drones para captar essas imagens.

“Exorcismos e Demônios” é baseado no caso real de uma jovem freira, Adelina, morta em 2004 numa sessão com a intenção de tirar o diabo de seu corpo. O padre que deixou a moça três dias crucificada foi preso e condenado por assassinato. A partir de sua prisão, o roteiro tenta explicar o que teria acontecido usando as investigações de uma repórter, Nicole Rawlins, personagem de Sophie Cookson.

As andanças da jornalista pela cidadezinha romena providenciam a série de flashbacks que vai contrapor as duas versões que sustentam a história: a irmã Adelina poderia realmente ter sido possuída, como defendem parentes e amigos, ou seria apenas uma mulher esquizofrênica brutalmente morta por um padre maluco, como apontam médicos e a polícia.

O filme vai melhor em sua primeira metade, quando o roteiro não toma posição sobre o que teria acontecido. Nicole se envolve com um padre local, Anton, que não teve participação no exorcismo de Adelina. Ele atua como guia religioso que explica os mecanismos da igreja romena para a repórter e também serve de interesse romântico para ela.

Quando parece que o filme seguirá interessante, o roteiro se rende totalmente aos clichês do gênero. Lembraram até de colocar um garoto mudo, o esquisitão do vilarejo, para ser o personagem misterioso que tanto pode ser uma ameaça a Nicole quanto alguém que deseja proteger a mocinha.

Na parte final, a tentativa de resolver as pontas desamarradas com ingredientes clássicos de terror resulta rasteira, insulta a inteligência de quem está assistindo.

“Exorcismos e Demônios” até parte de uma proposta singular, mas não cumpre o que promete. Para usar uma expressão popular que tem alguma relação com o universo abordado no filme, de boas intenções o inferno está cheio.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.