Fotógrafo de moda, Jacques Dequeker lança revista só para Instagram

Stories é o novo preto, afirma brasileiro, que perdeu tesão por títulos impressos

Pedro Diniz
São Paulo

Ainda não é possível mensurar o impacto de longo prazo que as plataformas virtuais terão nas publicações de moda. É consenso, porém, que as ferramentas mudaram o processo criativo de fotógrafos, cujo trabalho, além da imagem impressa, abarca do vídeo à pós-produção.

Foi nesse cenário que o brasileiro Jacques Dequeker, um dos mais prestigiados da área, decidiu romper com a banca de revista.

Desde que o projeto para Instagram Dqker Nation foi lançado, em janeiro deste ano, supermodelos, grifes e celebridades preenchem a conta homônima dessa espécie de revista eletrônica, cujo conteúdo imagético é divulgado em pílulas semanais.

"Stories is the new black", ou, "stories é o novo preto", virou mantra de Dequeker, que construiu a fama de fotógrafo de moda sendo recordista de trabalhos para a Vogue na América do Sul. Só para a versão brasileira do título foram mais de 70 capas.

 

"Perdi o tesão [de revista]. Quando comecei, a rebeldia movia os fotógrafos. Mas as revistas se fecharam em guetos e, por isso, não atraem mais o público. Só quem faz acha elas bonitas", diz.

Os atores Camila Queiroz e Felipe Titto e as modelos Candice Swanepoel e Valentina Sampaio estiveram na escalação do fotógrafo para as primeiras edições do projeto, que ainda não tem conteúdo de texto porque o fotógrafo e os sócios da agência Crane não encontraram a melhor forma de publicá-los.

"É um processo de erro, acerto e inovação constante. O grande desafio é poder tratar de temas que não estão nas revistas e fazer um conteúdo atrativo tanto para leitores quanto para parceiros", explica Dequeker, que recentemente fechou editorial com a grife francesa Christian Dior em fotos de beleza.

ANALÓGICO X DIGITAL

A apropriação de plataformas virtuais pela moda é uma evolução da importância que a tecnologia desempenha no dia a dia de fotógrafos e editores.

Mas, diferentemente do que prega Dequeker, para muitos profissionais o digital tem como propósito ser uma extensão do analógico, no caso, a revista, e não suprimi-la.

Para o diretor criativo da Vogue italiana e de estrelas pop como Madonna a Anitta, Giovanni Bianco, a revista é um cartão de visitas.

"Não se pode mais negar que os jovens consomem conteúdo pelo smartphone, então os vídeos para celular e as redes sociais viraram a porta de entrada da mídia de moda", diz Bianco durante o lançamento de um filme feito em parceria com a grife Animale.

Nesse sentido, o futuro do conteúdo bidimensional estaria ligado ao online. As revistas, diz, "terão de criar uma plataforma digital consistente, porque engaja muito mais e dá uma visão de 360º para os jovens".

Tanto Bianco quanto outro medalhão da imagem, o fotógrafo Bob Wolfenson, acreditam que o mercado passa por um momento de dor.

"O pior já passou. Vemos a multiplicação de títulos independentes pelo mundo e o surgimento de grupos editoriais alternativos. As [revistas] 'mainstream' já sofreram o que tinham de sofrer", afirma Wolfenson.

Ele, entusiasta do digital, também discorda da ideia de que a imagem em pixels tenha permitido a qualquer um virar fotógrafo, um conceito aventado no início do século com o uso massivo do Photoshop.

"Ainda vejo muita histeria quanto a isso. Mas, na moda, não é 'fiz uma foto minha, vou botar no Instagram e agora sou fotógrafo'. A imagem naturalista até está em voga, mas ela não é episódica, feita de qualquer maneira. Moda exige preparação e cooperação."

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