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Moda

Grifes da SPFW exibem versão brasileira do minimalismo

Conceito europeizado reunia preto, branco, formas retas e pouco rebusco

Pedro Diniz Giuliana Mesquita
São Paulo

​Se por muito tempo o pacote de preto, branco, formas retas e pouco rebusco definiam o conceito de minimalismo das grifes nacionais —conceito europeizado da corrente estética—, agora os estilistas investem numa versão brasileira da simplicidade.

No terceiro dia da São Paulo Fashion Week, as grifes Reinaldo Lourenço, Modem e Fernanda Yamamoto criaram, à sua maneira, roupagem colorida e sensual para coleções de básicos intercambiáveis.


CRÍTICA

Reinaldo Lourenço

Fazia tempo que o estilista devia uma coleção tão cheia de referências e esmero técnico à audiência fashionista. Inspirado nos filmes "De Olhos Bem Fechados", de Stanley Kubrick, e "Morte em Veneza", de Luchino Visconti, as peças do designer exploram a pele e o tecido de forma harmônica, com rendas pontuais e detalhes em couro.

O tom vitoriano das roupas tem inspiração nos bailes suntuosos do barão de Rothschild, que serviram de base para as festas filmadas por Kubrick, e os looks brancos rendados pareciam saídos do guarda-roupa da atriz Marisa Berenson para o longa de Visconti.

Antíteses como romantismo e fetiche se fundem nas propostas de casacos de couro misturados aos babados em forma de dentes e em tules estrategicamente posicionados no colo fazendo par com detalhes em fitas.

Ao mesmo tempo, Lourenço vira o tabuleiro e inclui o tartan escocês no jogo de sedução proposto. Fora do comum, aplica a padronagem xadrez em tecidos metalizados.

 

Modem

O que mais chama atenção na Modem é o fato de ela não ser uma marca, mas um estilo. A lógica da moda sazonal e focada em temas aleatórios, que muda conforme a tendência do momento, não seduz os estilistas André Boffano e Samuel Santos. Eles preferem a atemporalidade e a construção de uma identidade.

A dupla criou uma coleção de terninhos de alfaiataria monocromáticos, vestidos com babados plissados e peças com aplicações de argolas de metal aplicadas manualmente no couro. Tudo é tão simples que beira o básico, não fossem os detalhes industriais, as ilustrações nas camisetas de tricô e as franjas nas saias assimétricas.

O segredo do negócio da grife são as combinações simples, a moda bem executada, mas que guardam a sensualidade que boa parte das brasileiras gosta, como decotes, transparências e comprimentos míni.

 

Fernanda Yamamoto

Vestidos bem estruturados, mas leves, sobreposições de peças e texturas, silhueta alongada e looks monocromáticos permearam a coleção. O minimalismo, geralmente construído em tons sóbrios, ganhou uma cartela de cores vivas nas mãos de Yamamoto.

A partir de formas geométricas simples, como retângulos, círculos e quadrados, a estilista reinterpretou os trabalhos artísticos da comunidade Yuba e os trouxe para a moda.

O resultado é uma coleção que foca tingimentos naturais e técnicas de plissados, comuns à costura japonesa —aliás, símbolos da moda do estilista Issey Miyake, que parece ter servido de referência criativa para a coleção.

 

Fabiana Milazzo

Um estilo mais sustentável parece ser a nova obsessão das grifes da SPFW. A estilista mineira guardou sobras, retalhos e aparas de coleções passadas para construir sua primeira coleção com esses restos.

A simplicidade, no caso de Milazzo, não acontece pelo minimalismo, mas pela matéria-prima usada. Vários tipos de renda, divididas em blocos de cor, compuseram as peças.

Faltou, no entanto, edição e olhar mais apurado para combinações dos retalhos e modelagens amplas, fora de contexto tanto da coleção em si quanto da história de sua marca.

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