Longe da passarela, Gisele Bündchen pede união contra assédio e desmatamento na Amazônia

Modelo abandonou desfiles em 2015 para poder associar-se a militância de gênero e ambiental

A modelo Gisele Bündchen nos bastidores de campanha para a grife de lingerie Hope, em 2018.
A modelo Gisele Bündchen nos bastidores de campanha para a grife de lingerie Hope, em 2018. - Luciana Prezia/Divulgação
Pedro Diniz
São Paulo

Cabelo Gisele, corpo Gisele, estilo Gisele. Até marido Gisele já inventaram para definir um estado ideal de felicidade feminina. Mas, tudo o que a mulher por trás dessas referências diz querer hoje é não se ater mais ao estereótipo de sua imagem.

Maior modelo de todos os tempos, Gisele Bündchen, 37, abandonou as passarelas em 2015 para poder, segundo diz em entrevista exclusiva à Folha, associar-se a empresas e pessoas que tenham vontade de ir além e fazer diferença. 

Por isso, sustentabilidade, união feminina e maturidade entraram no vocabulário da top, que desde então ganhou prêmios pelo ativismo, preparou livro de imagens e engendra campanhas em que aparece de rosto e corpo lavados, mais próximos da mulher real.

“Me sinto mais confortável comigo mesma. A maturidade traz serenidade, mais autoconhecimento, e vamos aprendendo a lidar com tudo. Continuo a trabalhar como modelo, mas sou muito mais seletiva nos meus trabalhos.”

Exemplo dessa seletividade é a nova campanha para a grife de lingerie Hope, para a qual não fotografava desde 2014. Sai a volúpia dos primeiros trabalhos, entram roupas e pouca transparência. Para a marca de cosméticos Boticário, lançada neste mês, posou sem maquiagem.

“Sempre acreditei que se você se sentir bem consigo mesma, vai transparecer isso, e isso que é o sexy. Todo o resto é consequência dessa atitude.”

Conselhos, mantras e história de vida estarão na autobiografia da modelo, a ser lançado em outubro e que, em tradução livre, deve se chamar “Lições: Meu Caminho para uma Vida Significativa”. 

O título será publicado no país pela editora Best-Seller, do grupo editorial Record.

Os inúmeros trabalhos desmentem a ideia, propagada em sua última apresentação na passarela, no desfile da Colcci, durante a São Paulo Fashion Week, de que daria um tempo dos holofotes. Mesmo que quisesse, ela afirma, não conseguiria.

“A verdade é que tenho dificuldade em desacelerar. Tenho vários projetos em que estou trabalhando e muitas parcerias para analisar. A agenda continua bem agitada, mas tenho conseguido viajar um pouco menos, estar mais em família e participar mais da rotina dos meus filhos. E isso é maravilhoso”, diz Gisele.

Um dos temas que tomam seu tempo é o desmatamento da Amazônia. A modelo ganhou o noticiário, no ano passado, ao pedir em sua conta no Twitter que o presidente Michel Temer não aprovasse medidas provisórias que diminuiriam a área de preservação ambiental. O próprio presidente respondeu, vetando a proposta. A resposta de Gisele: “Continuamos de olho”.

Em agosto, após o governo autorizar a exploração mineral em uma área de 47 mil hectares entre o Pará e o Amapá, na Amazônia, ela voltou a atacar e escreveu: “Vergonha! Estão leiloando nossa Amazônia!”.

Logo depois, em setembro, seria a primeira homenageada do prêmio Eco Laureate, no Green Carpet Fashion Awards, pelo ativismo ambiental. 

Gisele cobra aos brasileiros que entrem na discussão.

No mesmo mês, apareceu cantando “Imagine” no Rock in Rio, ao lado de Ivete Sangalo para pedir apoio à causa ambiental.

“O desmatamento hoje é ainda mais preocupante, mas acredito que os brasileiros, de forma geral, não estão realmente cientes do que está acontecendo, das dimensões e das consequências que isso trará”, afirma. 

Sem citar Temer, a top diz que o governo precisa ser mais severo na fiscalização e equipar quem está à frente do combate ao desmatamento.

“Não se pode abrandar leis e permitir o saqueamento da Amazônia. Precisamos ter incentivos para empresas que produzem de forma sustentável e multar as que poluem.”

O ativismo lhe rende títulos em jornais internacionais, como o Wall Street Journal, que, em março,  definiu a modelo como “força da natureza”. 

“Acho importante que pessoas públicas se manifestem e apoiem a manutenção da floresta em pé. O principal, porém, é que a sociedade esteja ciente de que, sem a floresta, não teremos o equilíbrio no clima, essencial para nossa sobrevivência. Nossas vidas dependem da saúde do planeta”, diz a modelo.

Gisele também não se esquiva em comentar o assunto, que muitos de seus pares da moda preferem não falar, sobre a recente onda de denúncias de assédio sexual que tomou o entretenimento, do cinema à costura, e cujo resultado foi a criação de campanhas como “MeToo” e “Time’s Up”.

“Isso não é recente, são desafios que existem há muito tempo. Eles simplesmente saíram da sombra e foram expostos, para que agora possam ser enfrentados e transformados. O apoio mútuo entre as mulheres é muito importante nesse enfrentamento, assim como as campanhas que dão vozes a elas”, diz.

E como se relacionasse sua história à causa, prega união de forças. “As mulheres precisam se valorizar e continuar lutando por reconhecimento.”

Erramos: o texto foi alterado

O governo autorizou a exploração mineral em uma área entre o Pará e o Amapá, não entre o Pará e a Amazônia.

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