Descrição de chapéu

Morno, 'Submersão' se mostra símbolo de obra que se desmotivou 

Longa é um filme exaurido, um gesto desesperado que não é de revolta, mas sim de cansaço

Cássio Starling Carlos
São Paulo

Submersão

  • Quando estreia nesta quinta (19)
  • Classificação 14 anos
  • Elenco James McAvoy, Alicia Vikander, Alexander Siddig
  • Produção Alemanha/França/Espanha/EUA, 2017
  • Direção Wim Wenders

Veja salas e horários de exibição.

Se o nome de Wim Wenders ainda ressoa entre aqueles que cultuaram sua obra até o final dos anos 1980, não é fácil reconhecer o que sobrou do cineasta de outrora em “Submersão”.

As primeiras imagens, submarinas, revelam um olhar ainda atento ao estranhamento das formas, a um mundo que mesmo sendo o nosso é outro, inabitável.

Ali, num abismo oceânico, move-se Danielle, a cientista a que Alicia Vikander se esforça para emprestar vida. 

O trabalho dessa cientista, como o dos personagens desgarrados dos filmes da primeira fase de Wenders, é interpretar uma realidade inapreensível.

Na superfície, Danielle mantém a segurança e objetividade que tem debaixo d’água; mas algo a desestabiliza, ela se inquieta com o silêncio de alguém que está longe.

O corte súbito para uma masmorra em algum lugar nos confins do mundo mostra um prisioneiro incomunicável, talvez aquele cujo silêncio a aflige.

Wenders libera-se desse beco sem saída narrativo aproximando os dois personagens no passado, num flashback idílico que esclarece como eles se conheceram.

Cena do filme 'Submersão' de Wim Wenders
Cena do filme 'Submersão' de Wim Wenders - Divulgação

O hotel em frente ao oceano e a casamata da Segunda Guerra na praia ecoam o prazer melancólico que Wenders preservou de filmar espaços vazios, ruínas ocas de significados, vácuos no tempo.

O temperamento distanciado de Danielle e as ambiguidades de James (James McAvoy) dão a essa passagem do filme uma temperatura fria, reiterada por um mergulho no mar gelado e pelos tons da fotografia de Benoît Debie.

De volta ao presente angustiante, o filme concentra-se no drama de James, agente secreto britânico enviado numa operação de risco à Somália para desbaratar um plano de ataque terrorista na Europa.

Ali, a imagem e o tema alteram-se novamente, adquirindo ocres ásperos e focalizando o tratamento rude que jihadistas impõem a James.

Nessa altura começamos a indagar aonde Wenders pretende chegar com essa história de amor inviabilizada por um estado do mundo definido por ódios e exclusões.

Mas a abordagem política que se esboça nunca chega a ganhar peso, devido ao tratamento titubeante empregado por Wenders. 

Seria possível alegar que o cinema de afetos praticado pelo diretor nunca chegou a propor algum diálogo concreto com questões políticas, o que faria entender a tibieza dessa tentativa. 

“Submersão” torna-se, assim como seu último ato, um filme exaurido, um gesto desesperado que não é de revolta, mas sim de cansaço. Um símbolo, afinal, de uma obra, talvez não esgotada, mas desmotivada.

Assista ao trailer de 'Submersão' 

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