Movidos a samba, Maria Bethânia e Zeca Pagodinho fazem turnê em dupla

'Ela está me botando pra ensaiar, coisa que eu nunca fiz', diz ele

 
Retratos do cantores Zeza Pagodinho e Maria Bethânia

Retratos do cantores Zeza Pagodinho e Maria Bethânia Daryan Dornelles/Folhapress

Marco Aurélio Canônico
Rio de Janeiro

Era um encontro que parecia improvável, até que aconteceu e se mostrou natural: a baiana criada no samba-de-roda do Recôncavo e o carioca que carrega o pagode no nome. A filha de Santo Amaro da Purificação (BA) e o símbolo de Xerém (RJ). A mangueirense e o portelense. Maria Bethânia e Zeca Pagodinho.

Após cantarem juntos pela primeira vez na gravação do último CD/DVD dele ("O Quintal do Pagodinho 3", 2016), Bethânia e Zeca armaram uma turnê em dupla, "De Santo Amaro a Xerém", que estreia em Recife no próximo sábado (7) e roda por outras cinco capitais até o fim de maio —em São Paulo, nos dias 18 e 19 de maio, no Citibank Hall.

"O show tem um caminho, a base é o samba, sua natureza, de onde vem, para onde conduz, como ele permeia tudo", diz Bethânia. "No Brasil, os grandes movimentos musicais, a bossa nova, o tropicalismo, tudo tem o samba. Somos todos filhos de escravos, temos isso muito vivo."

Se o samba os une —e ambos, principalmente ela, vão muito além dele—, a dupla tem consciência de que seus estilos no palco são praticamente antagônicos. Bethânia é toda planejamento, rigor, controle cênico e musical; Zeca é a encarnação do despojamento das rodas de subúrbio.

"Ela me botando pra ensaiar, coisa que eu nunca fiz", diz ele, provocando risos nela. "Tem que ensaiar para conhecer o outro, senão fica difícil para ele e para mim. Tem que ter o convívio, uma intimidade com o que gostamos, com o que entendemos. E isso é bom. O Zeca está se esforçando", diz ela, em tom contemporizador.

O "porra" que Zeca suspira após ouvir o elogio a seus esforços de adaptação mostra que a tarefa lhe tem sido custosa. "Geralmente eu deixo os caras resolverem tudo e depois eu vou, quando já tudo pronto. Bethânia é quase uma diretora."

A baiana reage, bem-humorada, mas como quem diz "você não viu nada": "Não! Longe disso, Maricota. Essa daí, a diretora, ficou em Santo Amaro, não veio."

No roteiro criado pela dupla, cada um escolheu o que queria cantar sozinho —sucessos como "Negue" e "Reconvexo", dela, e "Maneiras" e "Verdade", dele— e debateram os números conjuntos, entre eles "Deixa a Vida me Levar" e "Sonho Meu".

Há também uma canção de Caetano Veloso composta para o show e intitulada "Amaro Xerém", além de uma inédita de Leandro Fregonesi ("Pertinho de Salvador") e outra de Adriana Calcanhotto ("A Surdo 1 ", homenagem à Mangueira que Bethânia canta sozinha).

A turnê já tem sete datas e, por compromissos de ambos, uma prorrogação parece improvável por ora: Recife (7/4, Classic Hall), Salvador (14/4, Concha Acústica), Rio (21/4, KM de Vantagem Hall), Belo Horizonte (5/5, Km de Vantagem Hall), São Paulo (18 e 19/5, Citibank Hall) e Brasília (30/5, Centro de Convenções Ulisses Guimarães).

Contratados por gravadoras distintas, os dois também não acertaram ainda se o show vai ser registrado para lançamento eCD/DVD.

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