Nos EUA, estudantes reconstituem rostos de imigrantes mortos

Projeto busca identificar vítimas achadas no deserto do Arizona, que faz fronteira com o México 

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The New York Times

Os momentos finais de oito pessoas que atravessaram a fronteira entre EUA e México e cujos restos foram encontrados no deserto do Arizona serão sempre um mistério.

A situação é agravada por ainda outra indignidade: as identidades deles, que morreram em decorrência de desidratação e hipertemia, por exemplo, continuam desconhecidas, apesar das técnicas usadas por legistas.

Facial reconstructions produced by students in the New York Academy of Art?s forensic workshop, in New York, Feb. 13, 2018. At the academy, graduate students reconstruct faces of the dead found in the Arizona desert as well as New York City using their skulls or 3-D drawings
Rostos de imigrantes mortos reconstruídos por alunos de oficina em Nova York - Vincent Tullo/The New York Times

Um último esforço para identificá-los e dar informações às famílias foi transferido da polícia para um ambiente mais rarefeito: uma oficina de reconstrução facial na Academia de Arte de Nova York.

O professor é Joe Mullins, artista forense do National Center for Missing and Exploited Children, e seu foco é a reconstrução dos rostos de imigrantes que perderam a vida no deserto.

A oficina reflete a crescente sofisticação das técnicas de reconstrução facial forense —uma fusão de ciência, arte e antropologia, na qual o crânio é usado para construir um rosto e ajudar os investigadores a identificar os mortos.

A técnica se prova especialmente útil em caso de crimes ou desastres com grande número de vítimas.

Jovens alunos de pós-graduação, cujo rigoroso treinamento em arte clássica inclui anatomia, estão trabalhando com réplicas impressas em 3D dos crânios das vítimas, baseadas em tomografias dos originais, que são considerados como provas forenses.

As reconstruções produzidas pelos alunos são reproduzidas cuidadosamente em argila aplicada sobre os crânios copiados, com bolinhas de gude no lugar dos olhos e pupilas desenhadas com canetas hidrográficas.

"Somos criaturas visuais", disse Bruce Anderson, antropólogo forense do departamento de medicina forense do condado de Pima, onde os corpos foram achados. "Quando não temos um rosto visível [por causa da decomposição], pedimos a artistas que nos ofereçam uma impressão sobre que aparência a pessoa tinha, a fim de gerar atenção quanto a um determinado caso."

Reconstruir um rosto de maneira cientificamente precisa envolve reproduzir os músculos e tecidos faciais camada por camada, usando faixas de argila. Depois, os estudantes usam canudos plásticos inseridos na argila para marcar a profundidade dos tecidos, o que toma por base a média de idades, sexos e antecedentes culturais calculada pelos pesquisadores.

Antonia Barolini, 23, cuja especialidade é a pintura, disse que escolheu a academia por causa do curso de Mullins; ela sonhava ser agente do FBI (polícia federal dos EUA).

Essas reconstruções foram postadas no Sistema de Pessoas Desaparecidas e Não Identificadas do Instituto Nacional de Justiça.

As mortes de migrantes em tentativas de cruzar a fronteira dos Estados Unidos com o México sofreram queda considerável no ano passado, de acordo com a Organização Internacional para Migrações das Nações Unidas.

De 2001 para cá, os restos de cerca de 2.800 migrantes foram localizados apenas no condado de Pima, e os locais em que foram encontrados são representados por círculos vermelhos nos "mapas da morte" produzidos por ONGs.

Desse total, cerca de mil pessoas continuam não identificadas. A fiscalização mais rigorosa da fronteira e políticas de deportação mais severas vêm levando os migrantes a procurar travessias em áreas mais remotas e brutais.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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