Descrição de chapéu Artes Cênicas

Parlapatões estreiam o seu 'Rei da Vela', que segue a marca circense do grupo

Hugo Possolo acalentou projeto por 4 anos e o postergou após anúncio de remontagem histórica

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São Paulo

Escrito por Oswald de Andrade em 1933, "O Rei da Vela" critica a sociedade da época a partir da história de Abelardo 1º, agiota inescrupuloso que faz fortuna empobrecendo os já miseráveis endividados com a crise de 1929.

Mas é claro que, quando pôs as mãos no texto pela primeira vez, aos 11 anos, Hugo Possolo não pôde entender boa parte dessas críticas.

Apesar disso, conta o diretor dos Parlapatões, a história o fascinou. Ele guardou o fascínio para si até 2014, quando decidiu que "a crise que se aproximava do país" tornava a montagem necessária.

Quatro anos depois, o grupo estreia sua versão da peça, com Possolo na direção e no papel principal, a partir desta sexta (13), em São Paulo.

Segundo Possolo, a montagem foi sendo postergada enquanto o grupo não conseguia reunir recursos suficientes para bancar a temporada.

Quando conseguiram, receberam a notícia de que José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina, planejava remontar sua versão histórica da peça, de 1967. Decidiram segurar. "Essa montagem é essencial, é uma virada na história do teatro brasileiro."

Apesar da importância da versão do Oficina, Possolo diz não se preocupar muito com as inevitáveis comparações. "As coisas vão ser diferentes porque a gente é diferente."

Essas diferenças começam na estética: seguindo a marca circense do grupo, os atores usam uma maquiagem que remete à dos palhaços.

O Abelardo de Possolo também incorpora o cinismo típico de um bufão. A justificativa vem do texto original: quando criou o protagonista, Oswald pensava em Abelardo Pinto, o palhaço Piolim. Não por coincidência, Possolo interpretou Piolim em uma peça de 1997 dos Parlapatões.

AMIGO DA ONÇA

A ideia, no entanto, não é se limitar à figura do palhaço. "Seria muito cômodo, então acabei adotando um pouco de outros personagens da época, como o Amigo da Onça, do Péricles". diz Possolo.

A dramaturgia também foi adaptada para resumir as quase três horas e meia de peça —no caso da montagem do Oficina— em uma hora e meia. Diálogos foram suprimidos, e o primeiro e o segundo atos foram condensados.

As transições entre cenas foram feitas principalmente com o uso de músicas, interpretadas pelos atores com a ajuda de uma banda ao vivo.

A direção musical de Fernanda Maia incluiu desde "Chiquita Bacana", dos anos 1940, até hits atuais, interpretados por Anitta e Ludmilla.

A montagem também incorpora elementos extratexto: algumas rubricas (instruções do autor para a encenação) e notas de rodapé do texto original serão interpretadas por um personagem que se identifica como o próprio Oswald de Andrade. Vivido por Nando Bolognesi, ele atua como narrador.

Apesar de fazer referências ao momento político atual, a peça não se pauta por ele.

"Faço uma piada aqui e ali, mas não vou a fundo. Houve no Brasil nos últimos anos uma imbecilização geral: as pessoas não pensam mais. Então, se denomino e apresento na peça pessoas que acho ridículas, sinto que estou dando voz a elas."

Para ele, no entanto, a crise que o país enfrenta é o que justifica a importância da montagem. "Precisamos reconstruir nossa identidade, e pensadores como Oswald são essenciais para isso."

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