Descrição de chapéu música rock

Radiohead atinge harmonia entre influências eletrônicas e linhas acústicas

Banda britânica, que veio ao Brasil em 2009, faz shows no Rio e em São Paulo

Thom Yorke, vocalista do Radiohead, se apresenta no palco principal do Festival Coachella de 2017, na Califórnia - Rich Fury/Getty Images for Coachella
Thiago Ney
São Paulo

Poucas bandas conseguiram tornar-se populares com músicas tão complexas e originais como o Radiohead.

Formado na Inglaterra no final dos anos 1980, o grupo veio só uma vez ao Brasil, em 2009. Retorna nesta semana, para shows no Rio (nesta sexta, 20, na Jeunesse Arena) e em São Paulo (no domingo, 22, no Allianz Parque).

Thom Yorke (vocal), Jonny Greenwood (guitarra, teclados), Ed O'Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo) e Philip Selway (bateria) fizeram alguns dos discos mais elogiados ("OK Computer") e desafiadores ("Kid A") da música.

A atual turnê sul-americana começou em Santiago, no Chile (11/4) e se encerrará em Bogotá, Colômbia (25/4).

No Chile e no Peru, o show teve 26 faixas; em Buenos Aires, 27. A banda costuma mudar bastante o setlist de uma apresentação para outra, mas faixas como "Paranoid Android", "Weird Fishes/Arpeggi" e "Everything in its Right Place" devem estar no repertório dos shows brasileiros.

Uma das principais marcas da banda é a reinvenção.

O início

Em 1993, o Radiohead parecia ser a banda certa na hora errada. O mundo estava ainda sob a ressaca do grunge (com guitarras pesadas e letras niilistas) e no ano seguinte viria o britpop comandado por Oasis e Blur (faixas melódicas e letras ensolaradas).

O primeiro disco, "Pablo Honey" (1993), não se encaixava em cenas, mas trazia uma música de letra depressiva que pouco a pouco ganhou espaço em rádios e na MTV (ainda pré-internet). "Creep" parece ter sido feita por uma outra banda, mas é até hoje a faixa mais popular do Radiohead.

A afirmação

Mais experientes e empurrados pelo sucesso de "Creep", lançam "The Bends" em 1995. A banda ensaia o que viria a consolidar no disco seguinte: melodias nada óbvias, letras beirando a abstração e maior uso de teclados. Foi a primeira colaboração do grupo com o produtor Nigel Godrich (aqui, ele era engenheiro de som, mas viraria produtor titular dos álbuns seguintes). Guitarras fortes ainda dão o tom em faixas como "The Bends", "High and Dry", "Just" e "Bones".

A consagração

Em meio ao auge popular do britpop, o Radiohead aparece com um disco dark que olhava mais para o futuro. "OK Computer", de 1997, combina faixas com estrutura tradicional ("Karma Police", "No Surprises") e outras que desconstroem padrões do rock (como "Paranoid Android" e suas flutuações de tom).

Se "Pablo Honey" era o retrato de uma banda perdida, "OK Computer" mostra um grupo com um universo particular. O álbum ajudou a enterrar o saudosista britpop.

A ruptura

O Radiohead tornava-se uma das principais bandas de rock do mundo. Mas Thom Yorke e Jonny Greenwood não queriam ser apenas uma banda de rock e trocou o cânone roqueiro como ponto de partida pelo jazz, pela música eletrônica e por experimentações sonoras.

O resultado é "Kid A", de 2000, e seu irmão, "Amnesiac", de 2001 (gravados simultaneamente). Esperava-se um "OK Computer" 2.0, e o grupo deixou o público sem entender nada.

Após o estranhamento inicial, é possível notar a beleza harmônica de faixas como "Idioteque", "Everything in its Right Place" e "How to Disappear Completely".

A aproximação política

Questões sociais e políticas nunca foram o centro das composições de Yorke, mas "Hail to the Thief" pode ser considerado um disco que joga luz sobre problemas e medos contemporâneos.

A Guerra ao Terror anunciada por George W. Bush no pós-11 de Setembro estava a pleno vapor, e a banda alude ao clima bélico no título do disco ("saudações ao ladrão") e em faixas como "2 + 2 = 5".

A aposta

Em 2007, a indústria da música estava despedaçada.

As vendas despencavam enquanto a internet mudava hábitos de consumo e amplificava a pirataria. O Radiohead arriscou ao colocar o álbum "In Rainbows" para ser baixado em seu próprio site sob um sistema pague quanto quiser.

Mas o álbum vai além. É mais intimista, com faixas lindas, como "Weird Fishes/Arpeggi" e "Videotape".

A volta às experimentações

A radicalidade com que o Radiohead pensou e construiu "Kid A"/"Amnesiac" é (parcialmente) resgatada em "The King of Limbs", de 2011. Uma banda que já tinha mudado e se transformado tanto aqui chega a um resultado bem menos animador. O disco tem muitas experimentações eletrônicas em faixas como "Lotus Flower" e "Feral".

O equilíbrio

Enquanto o disco anterior soava por vezes difuso, o mais recente, "A Moon Shaped Pool", lançado em 2016, é coeso e intenso. A banda, no auge de sua popularidade, chega ao equilíbrio entre as influências eletrônicas e as linhas acústicas.

Há muitos arranjos de cordas, e faixas como "Daydreaming" e "True Love Waits" estão entre as mais bonitas feitas pelo Radiohead pós-"Kid A".


Soundhearts Festival 

Sexta (20/4) no Rio (Jeunesse Arena - av. Embaixador Abelardo Bueno, 3.401, Barra da Tijuca), a partir das 19h30. Domingo (22) em São Paulo (Allianz Parque - r. Palestra Itália, 200), a partir das 16h30. Ingressos a partir de R$ 360 (livepass.com.br)

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