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Os ingleses Colin Firth e Rachel Weisz pertencem àquela categoria de atores com justificado prestígio para atrair público interessado em bom cinema. Em “Somente o Mar Sabe”, apesar de uma história real com potencial narrativo, é o casal de protagonistas que salva o filme.
Donald Crowhurst, velejador amador, ficou famoso em 1968 ao entrar numa disputa promovida pelo jornal britânico Sunday Times para ver quem conseguiria dar a volta ao mundo sozinho em um barco, sem parar em nenhum porto. Ele vivia a frustração de não ganhar dinheiro suficiente para dar uma boa vida à mulher e aos três filhos, experimentando o fracasso ao criar novos aparelhos de navegação.
Com sua inventividade, construiu para a viagem um barco que desenhou especialmente para aproveitar uma espécie de bússola revolucionária com a qual, acreditava, conseguiria navegar mais rápido do que os experientes homens do mar envolvidos na competição.
O filme do diretor James Marsh, de “A Teoria de Tudo” (2014), é claramente dividido em duas frentes. Vai acompanhar os apuros de Crowhurst pelos mares do planeta, mas não sem antes exibir um bom painel sobre o relacionamento dele com a mulher, Clare. Metade da história contada é dedicada à angústia dela durante a aventura do marido e as consequências impostas à família.
Quando Crowhurst começa a se deparar com os aguardados problemas no mar, e eles não são poucos, tem motivos a mais para seguir em frente. Sem que Clare saiba, ele contraiu dívidas gigantescas na construção do barco, dando como garantia sua empresa e a casa onde sua família mora. Toda a sua vida está em jogo. Precisa do prêmio dado ao vencedor.
Descrito dessa forma, “Somente o Mar Sabe” parece um drama denso de aventura, que poderia envolver facilmente o espectador. Mas o grande problema da produção, que compromete o resultado, é o roteiro, desconjuntado e um tanto frio. O trabalho dos repórteres que tentam transformar o improvável velejador em herói nacional é narrado de um jeito frouxo. Os dias e dias de preocupação de Clare junto aos filhos caem numa repetição enfadonha.
E, o pior, falta didatismo na exibição das peripécias de Crowhurst. Em vários momentos é difícil entender onde ele está com seu barco, se está à frente ou atrás dos outros competidores, ou até mesmo se está navegando com desenvoltura ou parado no meio do oceano.
“Somente o Mar Sabe” só flui até o final porque Firth e Weisz mais uma vez mostram porque são premiados constantemente, até com o Oscar (cada um tem o seu). Ele consegue fazer um Crowhurst que oscila entre um herói resoluto e um sujeito apavorado, apalermado até. E ela chama a plateia para sofrer junto, num trabalho contido e difícil. Só os dois valem o ingresso.
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