Descrição de chapéu música

Se o Radiohead fosse de outras áreas artísticas, quem seria?

Especialistas indicam proximidades estéticas a partir de certos elementos

Artes visuais

O perfomer Vito Acconci - Divulgação

No jeito e na vida, Vito Acconci era a tradução em carne e osso de "Creep", do Radiohead, um cara sem lugar no mundo, especial num grau que ninguém nota, a não ser quando seu corpo virava o vetor de toda a angústia ao redor.

Esse performer, figura mítica do underground nova-iorquino, perseguia anônimos pelas ruas e esperava sozinho à noite no píer para contar seus segredos a desconhecidos. Era um rebelde em busca da beleza do acaso. Sua força invasiva, suja e perturbadora lembra a voz de Thom Yorke, um para-raios no meio da tempestade. (Silas Martí)

 

Televisão

Mireille Enos em 'The Killing' - Divulgação

Se o grupo fosse uma série, seria "The Killing", versão americana, temporadas 1 e 2. O drama sombrio criado por Veena Sud a partir do original, com seu clima eternamente chuvoso e soturno, começa como uma série policial esquemática como tantas, assim como o quinteto parecia só mais uma boa banda de rock-pop em "Pablo Honey". Para além dessa primeira impressão, porém, estamos falando de gente atormentada.

Gradualmente, a série passa a revirar entranhas familiares e dramas psicológicos, flerta com cenas mais gráficas/explícitas, passeia por momentos intimistas e se abre em diálogos bem humorados --tal qual a transição dos intimistas e intrincados "OK Computer"/"Kid A" para o catártico "In Rainbows". Fora que Mireille Enos e Thom Yorke devem ter sido separados na maternidade. (Luciana Coelho)

 

Fotografia

"Metropolitan Orpheum, Los Angeles", do fotógrafo Hiroshi Sugimoto - Reprodução

Nos anos 1970, o japonês Hiroshi Sugimoto foi a um cinema com uma câmera e um tripé. Quando o longa começou, apertou o disparador e deixou o obturador aberto por duas horas, até que a obra acabasse. Buscava registrar um filme inteiro em um único quadro. O resultado é uma imagem sombria, que exibe uma tela branca cuja luz contorna a arquitetura das salas de exibição.

O Radiohead também é capaz de encapsular referências e histórias em uma canção.

Sugimoto se aproxima ainda mais da banda com fotografias do mar, quase abstratas, cheia de texturas, que divagam sobre a transitoriedade da vida —características de discos pós-"OK Computer". Antes, o grupo era um fotógrafo menos conceitual, que produzia imagens cativantes, mas sem a estranheza e a originalidade que separam os bons dos grandes. (Daigo Oliva)

 

Moda

O estilista francês Hedi Slimane - Getty Images/AFP

A estética corta pulso ganhou status de luxo nas mãos de Hedi Slimane, considerado o mais soturno da moda e fundador da imagem "skinny". A proposta inclui olhar distante, magreza extrema, cabelo desgrenhado e roupa detonada. Além do visual de garoto atormentado, a cara da fragilidade que o Radiohead suscita, ele poderia ser irmão de Thom Yorke dada a semelhança física. (Pedro Diniz)

 

Teatro

A atriz Isabelle Huppert em "Psicose 4h48" - Divulgação

Também britânica, a dramaturga Sarah Kane (1971-99) traz nos textos a vertigem presente em diversas músicas do Radiohead, de um mundo constantemente em colapso. Nas criações deles, o prosaico pode se tornar tenebroso com duas ou três palavras.

A peça mais conhecida dela, "Psicose 4h48" , sobre o suposto horário em que há mais suicídios (ela se matou por enforcamento), embaralha vozes e traz o enigma, por exemplo, da canção "Paranoid Android": "quem pensou isso, fui eu?" (Gustavo Fioratti)

 

Cinema

Cena de As Virgens Suicidas
Cena de "As Virgens Suicidas" - Divulgação

O Radiohead tem sonoridade marcante e forte apelo visual. Thom Yorke e Jonny Greenwood são cinéfilos, com gostos que tendem a filmes estranhos e sombrios. O segundo fez trilhas para longas densos de Paul Thomas Anderson, enquanto Yorke compõe a do "remake" de "Suspiria", clássico do terror italiano. Se o Radiohead fosse um filme, seria algo como "As Virgens Suicidas", de Sofia Coppola, ao mesmo tempo lúdico e amedrontador. (André Barcinski)

 

Literatura

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O escritor Paulo Coelho - Antônio Gaudério - 15.ago.1990/Folhapress

O Radiohead, tão multifacetado, poderia ser três escritores. Paulo Coelho, por despertar fervor que beira o misticismo nos fanáticos; Salman Rushdie, por atrair a ira de seus detratores, que odeiam a banda com ardor de fatwa; o poeta adolescente Arthur Rimbaud (1854-91), por causa da lírica de Thom Yorke, sempre renovadora e instigante. (Joca Reiners Terron)

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