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Superman chega aos 80 anos. E o calção vermelho ainda serve

O herói foi lançado na revista Action Comics nº 1

George Gene Gustines
New York Times

O Superman, criado pelo redator Jerry Siegel e pelo desenhista Joe Shuster, foi lançado no dia 18 de abril de 1938 na revista Action Comics nº 1.

O Homem de Aço conquistou os leitores e, rápido como uma bala, se tornou sensação multimídia, com aventuras no rádio, cinema, televisão e palcos, e sua imagem em um caleidoscópio de mercadorias e produtos colecionáveis.

"Se ainda existe alguém que não saiba quem são Clark Kent e Lois Lane, estamos falando de uma pessoa muito desatenta", disse Maggie Thompson, editora sênior da revista Comic Buyer's Guide, que cobriu o setor de 1971 a 2013.

Na quarta-feira (18), o Superman faz 80 anos, e —pela alma do grande César!—, a DC Entertainment está lançando o número 1.000 da revista Action Comics. Abaixo, algumas edições memoráveis, na jornada do herói até este marco. Feliz aniversário, Kal-El!

Capa da edição 1.000 da revista do Superman
Capa da edição 1.000 da revista do Superman - DC Comics

Action Comics nº 1 (abril de 1938)

Capa da edição da revista do Superman
Primeira edição da revista Action Comics - DC Comics

A aventura do Superman, com 13 páginas, era apenas uma das diversas histórias publicadas na primeira edição da revista Action Comics, cujo formato inicial era o de uma antologia. (A data na capa da revista, junho, tinha por objetivo convencer as bancas de jornais a continuar a vendê-la por mais tempo.) O grande sucesso do herói apanhou a editora de surpresa. "Eles com certeza não faziam ideia do que tinham em mãos", disse Michael Uslan, historiador e roteirista de quadrinhos, e produtor de cinema. O Superman só voltou a ocupar a capa da Action Comics no número sete da revista, e só a partir do número 19 passou a ter sua imagem em todas as capas. (Quatro números mais tarde, o nome do jornal para o qual Clark Kent trabalha mudou de The Daily Star para The Daily Planet [Planeta Diário].) Uslan disse que as vendas da Action Comics saltaram de 130 mil cópias no número um para 555 mil cópias no número 15.
 
Action Comics nº 68 (novembro de 1943)

Capa da edição da revista do Superman
Capa da edição da revista Action Comics - DC Comics
"O Superman era um cara muito sério, quando Siegel e Shuster o criaram", disse Uslan. "Lutava contra a injustiça social, combatendo políticos corruptos e criminosos trapaceiros que exploravam os cidadãos comuns". Mas no número 68, o tom das histórias mudou perceptivelmente, com a introdução de Susie, a sobrinha traquinas de Lois Lane. A mudança aconteceu por causa da competição do Capitão Marvel —um herói menos sisudo—, cujas aventuras eram publicadas pela Fawcett Comics. "O Capitão Marvel foi o único personagem a superar o Superman em vendas na Era de Ouro", ou era inicial, das editoras de quadrinhos, disse Uslan. A abordagem mais brincalhona resultou em situações como Lois Lane derrubando uma panela quente no pé do Superman, o que o faz sair pulando de dor. Um processo que acusava o Capitão Marvel de ser uma cópia do Superman levou o Homem de Aço de volta ao topo, mais tarde.
 
Action Comics nº 241 (abril de 1958)
Capa da edição 1.000 da revista do Superman
Capa da edição da revista Action Comics - DC Comics

Depois de uma queda de vendas, quando a Segunda Guerra Mundial acabou, os super-heróis dos quadrinhos começaram a se recuperar na metade dos anos 50, um  período conhecido como a Era de Prata, na história dos quadrinhos. O começo exato do período é causa de debate entre os fãs e historiadores. Para Uslan, a edição 241 marca o início da evolução do Superman na Era de Prata, com o surgimento da Fortaleza da Solidão. Logo depois, viriam as estreias de Brainiac, a retomada de Lex Luthor, e Supergirl, Bizarro e alguns dos animais de estimação do Superman (Krypto, Streaky e Comet, entre outros). Brainiac, cujos hobbies incluem encolher cidades alienígenas para sua coleção, também traz um presente inesperado: parte de Krypton, o planeta natal do Superman. "A história do Superman é a história clássica de um imigrante", disse Peter Sanderson, historiador dos quadrinhos. "Krypton era um paraíso perdido, uma terra das maravilhas com ampla ciência, cachoeiras de fogo e montanhas de pedras preciosas. O Superman sempre sonhou em retornar ao seu planeta de origem".
 
Action Comics nº 270 (setembro de 1960)

Capa da revista 'Action Comics'
Capa da revista Action Comics - DC Comics

Sanderson recorda "O Velho de Metrópolis" como uma das histórias mais sombrias do Superman . A despeito de os principais leitores de quadrinhos serem crianças, na história o Homem de Aço contempla seu futuro e só vê infelicidades: está velho, e foi esquecido. E a pobre Lois! "Fiquei para titia", ela diz. "Desperdicei minha vida esperando por você". Mas, sempre esperançosa, ela ainda assim sugere que os dois vivam juntos os seus anos finais. Oh, Lois. A história mexeu com Sanderson, quando foi publicada, e continua a fazê-lo. "Foi perturbador, quando eu era menino, ler sobre um personagem do qual eu gostava reduzido à fragilidade física, esquecido e abandonado, vivendo em isolamento, solitário e aparentemente pobre", ele disse. "Agora que passei dos 60 anos, e penso naquela história sobre como a velhice pode ser horrível, ela parece ainda mais perturbadora". (Spoiler alert o futuro amargo era apenas um pesadelo.)
 
Action Comics nº 583 (junho de 1986)

Capa da edição da revista do Superman
Capa da edição da revista do Superman - DC Comics

Sanderson descreve "O Que Aconteceu ao Homem do Amanhã?", uma história em duas partes publicada na edição 583, como uma das maiores histórias do Superman, e também como uma das maiores histórias sobre super-heróis já publicadas. A história, escrita por Alan Moore e ilustrada por Curt Swan, George Pérez e Kurt Schaffenberger, tem por tema os dias finais do super-herói e de virtualmente todos os grandes personagens de sua saga. "É o Ragnarok do Superman", diz Sanderson. "A ideia é criar um clima de ópera". A história traz uma carga emocional pesada, e demonstra a forte moralidade do Superman. "Ele acredita ter violado seu código, e não pode continuar", explica Sanderson. Um dos momentos mais dolorosos? Lana Lang escuta, por acaso, a confissão do amor do Superman por Lois Lane, sua rival. Mas não se deixa abalar e, com a ajuda de Jimmy Olsen, fotógrafo do Planeta Diário e amigo permanente do herói, se prepara para defendê-lo, durante um ataque contra a Fortaleza da Solidão. Ela declara: "Ninguém o amou melhor que nós. Ninguém!" A despeito da calamidade, a história termina com uma nota de esperança.
 
Action Comics nº 584 (outubro de 1986)

 
Capa da edição da revista Action Comics
Capa da edição da revista Action Comics - DC Comics

 Em julho de 1986, a editora DC começou a publicar a série em seis partes "Homem de Aço", do ilustrador e escritor John Byrne, que repagina a história do Superman e, ao menos temporariamente, não o retrata como único sobrevivente de Krypton. A teoria era a de que as histórias acumuladas dos heróis da DC se tornaram tão confusas que novos leitores tinham dificuldades para acompanhá-las. Enquanto redatores anteriores retrataram Clark Kent como o disfarce e o Superman como verdadeira persona do herói, Byrne reverte essa postura, fazendo do herói um veículo para Clark. Sanderson explica que "ele adotou a persona do Superman para evitar os perigos da celebridade e da fama". Byrne também deixa claro que Clark nasceu na Terra. "Não era mais a história de um imigrante que chega aos Estados Unidos e anseia pelo lugar que deixou", diz Sanderson. "A história agora é sobre um imigrante que não quer saber da terra de onde veio". Com essa edição, Action Comics se torna uma revista sobre um grupo de heróis, mostrando as aventuras do Superman em companhia dos demais heróis da DC. O formato se encerra no número 600, que mostra um encontro entre o Superman e a Mulher Maravilha.
 
Action Comics nº 601 (abril de 1988)

Capa da edição da revista Action Comics
Capa da edição da revista Action Comics - DC Comics

Como série mensal, Action Comics precisaria de 83 anos para chegar ao número mil, mas a revista se tornou semanal, temporariamente. Nesse período, que durou até a edição 642, Action Comics voltou a adotar o formato de antologia. O Superman tinha uma história fixa de duas páginas em cada número, e as revistas também incluíam histórias curtas com outros heróis do universo da DC.
 
Action Comics nº 662 (janeiro de 1991)

Capa da edição da revista Action Comics
História em quadrinhos da DC Comics - DC Comics

A reinterpretação de Byrne para Clark Kent, como uma pessoa mais confiante, resultou em uma ocasião momentosa: ele pede Lois Lane em casamento (no número 50 da revista "Superman", em outubro de 1990), e ela aceita! Mas será que ele conseguirá se casar sem revelar seu segredo? A resposta: não. "Lois, há alguns anos eu vivo uma vida dupla". Lois, compreensivelmente, pede um tempo para pensar. "Quando você sair, não se esqueça de trancar a porta. Ou, sei lá, a janela", ela diz, depois de ouvir o segredo. Lois desmancha o noivado por algum tempo, mas volta atrás e se casa com Clark em outubro de 1996. O casamento coincide com o episódio de casamento da série de TV "Lois and Clark: The New Adventures of Superman".
 
Action Comics nº 1 (setembro de 2011)

História em quadrinhos da DC Comics
História em quadrinhos da DC Comics - DC Comics

Em 2011, a DC zerou toda a numeração de suas séries clássicas e reapresentou os heróis como se eles estivessem aparecendo pela primeira vez. Com texto de Grant Morrison e ilustrações de Rags Morales, a nova edição um da revista volta a narrar os dias iniciais do Superman, quando ele ainda estava aprendendo, sua personalidade era fanfarrona, e seus poderes ainda estavam em desenvolvimento. Uma série paralela tinha por foco as aventuras atuais do Superman, e introduziu uma nova farda, com colarinho alto, blindagem para o corpo e detalhes em vermelho. Um dos elementos de seu look clássico que desapareceu é o calção vermelho sobre as calças colantes azuis. Os fãs não conseguiam decidir o que mais os incomodava: a mudança do uniforme ou o fato de que o casamento de Lois e Clark desapareceu da história. (Na nova continuidade, os dois nem namoram.)
 
Action Comics nº 1.000 (abril de 2018)

Capa da revista da Action Comics
Capa da revista da Action Comics - DC Comics


A nova retomada das histórias pela DC inicialmente teve grande sucesso de vendas, mas, passados alguns anos os fãs queriam o passado de volta, e queriam muito. A DC respondeu com "Rebirth" [renascimento], com texto de Geoff Johns e ilustrações de diversos artistas, com o objetivo de restaurar parte daquilo que havia se perdido, o que inclui algum otimismo. Diversas séries foram reiniciadas - de novo -, mas Action Comics e Detective Comics, a revista na qual o Batman estreou, voltaram à sua numeração histórica, somando as edições renumeradas à série original e aproximando Action Comics da sua milésima edição. O casamento entre Lois e Clark foi restaurado, e eles têm um filho. Mas um dos maiores retornos foi guardado para o número mil. A DC promoveu orgulhosamente "o retorno do calção vermelho", em seu press release sobre a revista. A edição terá múltiplas opções de capa, festas de lançamento à meia-noite, e registrou mais de 500 mil cópias em pré-encomendas.
 
George Gustines é editor sênior do jornal The New York Times, e começou a escrever sobre o setor de quadrinhos em 2002.

Tradução Paulo Migliacci   

Erramos: o texto foi alterado

O Superman foi identificado como Homem de Ferro, mas ele é o Homem de Aço. O texto foi corrigido.

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