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Helen Mirren está fazendo um filme atrás do outro, o que é ótimo. A diva britânica de 72 anos aumenta cada vez mais sua coleção de personagens memoráveis. Já o canadense Donald Sutherland, 82, anda trabalhando pouco, o que é ruim. Juntos em “Ella & John”, os veteranos brilham num dos grandes filmes da temporada.
É tentador dizer que se trata de uma história “pra cima”. Há realmente leveza e romantismo na aventura do casal maduro que sai para uma viagem em seu antigo motorhome sem avisar aos filhos, buscando nela um último grande momento em suas vidas.
Mas o clima fica às vezes bem pesado, e não poderia ser diferente nas condições enfrentadas por John e Ella. Sofrendo de Alzheimer, ele alterna breves momentos de lucidez com períodos nos quais nem reconhece a mulher e os filhos. Ela, por sua vez, enfrenta um câncer devastador em fase terminal.
Na melhor tradição dos “road movies”, Ella e John caem em situações enternecedoras e em outras ameaçadoras. Encontram jovens fofos que adoram os velhinhos, mas também precisam lidar com gente malvada e perigosa. Têm que escapar de ladrões e também de policiais que podem, mesmo com boas intenções, atrapalhar a jornada libertadora do casal.
Quem tem pais ou avós que precisam de cuidados diários vai certamente se identificar com algumas cenas, num roteiro que não procura fugir de situações constrangedoras e humilhantes que os problemas de saúde da velhice podem provocar.
John é o cativante professor de literatura que vive cada vez mais em seu mundinho de livros. Começa a falar de grandes autores, principalmente Ernest Hemingway, seu favorito, com qualquer pessoa que cruza seu caminho. Mesmo que o interlocutor não tenha a menor ideia do que John está falando.
Ella é superprotetora com o marido, tenta ser uma fortaleza diante das adversidades. É dela a ideia de levar John para visitar a casa de Hemingway na Flórida, hoje um museu, e realizar esse desejo antigo do companheiro.
O roteiro é envolvente e engenhoso, guardando para sua parte final uma surpresa na trama, realmente inesperada e que pode alterar completamente o desfecho da jornada do intrépido casal.
Este é um filme americano do diretor italiano Paolo Virzi, conhecido no Brasil principalmente pelo longa “A Primeira Coisa Bela” (2010). Seu olhar europeu deixa tudo longe de qualquer armadilha emotiva comum em filmes americanos que pretendem fazer a plateia chorar.
O charme inegável dos atores serve à discussão dos direitos dos idosos sobre decidir como querem viver e não permite que o filme seja panfletário. Não há uma tomada de posição, apenas a defesa da liberdade de escolha.
Talvez o encantamento de “Ella & John” venha justamente na opção do diretor em misturar alegrias e tristezas em doses variadas. Como acontece de verdade na vida.
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