Com briga pelo nome, RPM repete sina de Pink Floyd, Guns N' Roses e... Calypso

Disputas judiciais marcaram trajetória de bandas e artistas do rock e do pop

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São Paulo

A disputa judicial entre os ex-integrantes do RPM pelo nome do grupo repete uma questão frequente na história do rock e do pop: quem herda o nome do grupo quando uma banda acaba?

Nos Estados Unidos e na Europa, são muitos os exemplos de ex-colegas que levam seus desentendimentos aos tribunais em processos que, não raro, se arrastam por décadas, muitas vezes influenciando a própria produção artística dos litigantes.

Veja, a seguir, alguns dos mais famosos exemplos de brigas por nomes de bandas —inclusive no Brasil.

David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright, da formação mais famosa do grupo inglês Pink Floyd
David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright, da formação mais famosa do grupo inglês Pink Floyd - Divulgação

Pink Floyd

Formada em 1965, a banda inglesa protagonizou a mais famosa briga por um nome de banda.

O baixista e compositor Roger Waters e os outros membros —o guitarrista e compositor David Gilmour, o baterista Nick Mason e o tecladista Richard Wright— estavam em rota de colisão desde 1972.

Naquele ano, o grupo lançou seu disco mais cultuado, “The Dark Side of the Moon”, que marcou a ascensão de Waters.

Ele saiu oficialmente em 1985, mas estava afastado desde 1983; segundo Gilmour e Mason, parecia imaginar que eles não conseguiriam seguir em frente.

Mas conseguiram. Herdeiros jurídicos, não se acanharam em lançar um novo disco (“A Momentary Lapse of Reason”) e em excursionar sob o nome Pink Floyd.

Enfurecido, Waters processou os ex-colegas em 1986 para impedi-los; sem sucesso. Como resultado, em 1987 o mundo viu duas turnês de duas atrações que clamavam ser o verdadeiro Pink Floyd.

A disputa nunca chegou às vias de fato —segundo o produtor Bob Ezrin, “tudo acontecia no modo britânico de brigar: ironias, sorrisos sarcásticos, tons de voz macios para dizer 'Eu te odeio e vou te matar'”.

Final meio feliz: eles se reconciliaram e já participaram de shows uns dos outros, mas (ainda) não gravaram ou fizeram turnês juntos.

Guns N' Roses

A banda americana foi um fenômeno mundial no fim dos anos 1980 e inícios dos 1990, mas ficou marcada principalmente pelas brigas entre seus integrantes —não raro, no palco.

Depois do fim do grupo, em 1996, Axl Rose seguiu fazendo shows com o nome Guns N' Roses, ladeado por figuras esquisitíssimas, como o guitarrista Buckethead, que dizia ter sido criado por frangos e se apresentava com um balde de KFC na cabeça.

Axl alegava ter feito um contrato, em 1992, com os outros membros-fundadores ainda no grupo, o baixista Duff McKagan e o guitarrista Slash.

Eles, porém, alegaram que Axl os obrigou a assinar um documento antes de um show em 1992, no camarim, no meio da turnê "Use Your  Illusion" —a mais drogada e caótica de uma banda marcada por drogas e caos.

Duff e Slash disseram que o vocalista os coagiu dizendo que não faria o show caso não assinassem, e citaram o medo de confusão por um show cancelado. 

À época, fazia pouco tempo que uma outra apresentação tinha acabado em quebra-quebra e feridos em St. Louis, nos EUA, porque Axl pulou na plateia para trocar socos com um fã e, depois, abandonou o palco.

Nas quase duas décadas de processos, muitos tentaram fazê-los voltar a ganhar dinheiro juntos, mas Axl dizia que jamais faria isso “nessa vida”.

Os três, contudo, se reconciliaram há dois anos e voltaram com a turnê “Not in this Lifetime...”, que estreou no Dia da Mentira (1º/4) e chega à terceira temporada neste ano —em 2017, foi a segunda turnê mais lucrativa do mundo.

 

Creedence Clearwater Revival

Formado em 1959, o grupo americano foi um dos maiores sucessos do "rock sulista” —uma mescla de folk, blues e rhythm and blues— até 1972, quando uma briga os separou.

Cantor, guitarrista e principal compositor, John Fogerty saiu brigado com os outros membros, incluindo seu irmão, o guitarrista Tom.

Processos judiciais se arrastaram por décadas, incluindo uma bizarra acusação de autoplágio: em 1988, após ter desistido da música, virado fazendeiro e voltado aos holofotes em carreira solo, John foi processado por plagiar a si mesmo.

Segundo a acusação do ex-empresário, a canção “Old Man Down the Road” era uma cópia de “Run Through the Jungle”, escrita por John e lançada em 1970 pelo Creedence.

O baixista Stu Cook e o baterista Doug Clifford passaram a excursionar sob o nome Creedence  Clearwater  Revisited, o que também motivou um processo por parte de John.

Final triste: Tom morreu em 1990 ainda às turras com o irmão John, que, em 1993, se recusou a tocar com Cook e Clifford no show que marcou a inclusão do grupo no hall da fama do rock n' roll.

The Doors

O que fazer quando morre o cantor e rosto mais famoso de uma banda?

Essa foi a pergunta que precisou ser respondida pelos membros do grupo The Doors após a morte de Jim Morrison, em 1971, em Paris, após uma overdose de heroína.

Em um primeiro momento, o tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore tentaram continuar. Eles lançaram dois discos sem o cantor (“Other Voices” e “Full Circle”), mas desistiram ainda nos anos 1970.

Em 2000, o grupo fez um breve retorno para um episódio do programa “Storytellers”, do canal de música VH1, no qual recebeu cantores para substituir Morrison.

Depois, em 2002, Manzarek e Krieger recrutaram o cantor Ian Astbury, ex-The Cult, para substituir Morrison em uma turnê.

O baterista Densmore, porém, discordou e entrou com um processo contra os ex-colegas, solicitando que eles fossem proibidos de usar o nome original do grupo.

Deu certo: a dupla precisou rebatizar seu projeto e escolheu o nome The Doors of the 21st Century (The Doors do século 21), depois alterado para um singelo título Manzarek-Krieger.

Calypso

A banda paraense de brega-lambada-carimbó foi um dos maiores sucessos do Brasil desde o fim dos anos 1990 e até meados da década de 2010.

Centrado na cantora Joelma e no guitarrista Chimbinha, o grupo desmoronou em 2015, em meio à separação do casal, marcada por acusações de adultério e agressões do público, que tomou as dores da cantora, contra o ex-marido dela.

Sócios no comando da empresa-banda, ambos foram proibidos pela Justiça de usar o nome até o fim do processo ou até um acordo, o que ainda não aconteceu.

A cantora adotou Joelma como nome artístico, e o guitarrista trocou a grafia do nome, de Chimbinha para Ximbinha, antes de contratar outra vocalista e chamar de XCalypso sua empreitada sem a ex-mulher, que acabou em 2017.

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