Combate ao assédio sexual pede por mulheres no planejamento das cidades

Folha e Espaço Itaú de Cinema promoveram debate após exibição de 'Chega de Fiu Fiu'

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DOCUMENTÁRIO CHEGA DE FIU FIU
Cena do documentário 'Chega de Fiu Fiu' - Divulgação
São Paulo

​A presença de mulheres no planejamento das cidades é fundamental para que elas possam exercer o direito ao espaço público e ultrapassar os limites impostos pela violência cotidiana. O combate ao assédio sexual não é uma demanda recente, mas reflexo de antigas discussões que agora são impulsionadas pela internet. 

Esses foram alguns dos apontamentos após sessão especial do documentário “Chega de Fiu Fiu” nesta terça-feira (29). O debate foi promovido pela Folha em parceria com o Espaço Itaú de Cinema e contou com mediação da jornalista Fernanda Mena.

“O assédio nas ruas faz parte do rol das violências de gênero. A gente tem uma sociedade que foi construída em cima do racismo e do machismo. A configuração das cidades reproduz essa lógica”, afirmou a arquiteta e urbanista Joice Berth.

Na leitura de Berth, falar em direito à cidade é questionar quais corpos são permitidos e quais não o são. Num espaço público histórica e predominantemente masculino, o corpo da mulher é visto como indesejado, e esse enfrentamento se traduz na violência que é o assédio.

“A construção da cidade é exercida por homens. As preocupações que nos são peculiares por conta da nossa vivência não estão na mentalidade deles”, disse ao citar fatores que geram insegurança como falta de iluminação nas ruas e rotas que não favoreçam a circulação de muitas pessoas.

Para Maíra Liguori, diretora da ONG Think Olga, a disseminação de informação através da internet encorajou o combate ao assédio. Foi também no espaço digital que uma opinião pública feminina sensível à promoção do acolhimento desenvolveu-se. 

“Quando você entende o que está acontecendo e como isso pode ser combatido e denunciado, você assume a rédea e coloca os sentimentos no lugar certo”, disse Liguori.

“Chega de Fiu Fiu” dá continuidade a campanha homônima criada em 2014 pela Think Olga. Segundo Liguori, naquele ano a organização lançou questionário online e recebeu 8.000 respostas em apenas 15 dias. Entre os relatos, mulheres diziam repensar suas roupas antes de sair de casa e deixar de circular em determinados lugares da cidade por medo. 

“Isso deu uma dimensão do tamanho do problema. A gente achava que fazia parte da vida ser assediada e voltar para casa como se fosse uma questão normal.”

Ao contar as histórias de Raquel Carvalho, Rosa Luz e Teresa Chaves, moradoras de Brasília, Salvador e São Paulo, respectivamente, o filme debate o assédio sexual relacionando-o a questões geográficas, de raça e políticas públicas.

Parte da narrativa do documentário traz as personagens usando câmera escondida para a filmagem de abordagens na rua. As três foram instruídas a responderem quando provocadas. “Foi horrível fazer isso. Me vi confrontada com uma situação que eu evito o tempo todo”, contou Teresa Chaves.

As debatedoras concordaram que são necessárias atuação do poder público e novas estratégias para a educação para que haja uma mudança de mentalidade. “O assédio nas ruas encontra um correspondente no espaço doméstico”, afirmou Joice Berth.

“Estar em sala de aula é ouvir coisas que você não gostaria de ouvir e fazer as pessoas entenderem que a opinião delas não é a única certeza que existe”, disse Teresa, que é professora de história e leciona para alunos do ensino médio. 

Em algumas de suas aulas, promove debates sobre questões de gênero, racismo e sexualidade —tarefa que, para ela, não é exatamente simples. "Às vezes tem aquele aluno que levanta a mão e diz que é um absurdo a homofobia ser crime no Brasil porque isso fere a liberdade de expressão do indivíduo." 

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