Descrição de chapéu Cinema festival de cannes

Em Cannes, público lota palestra de diretor que sempre escala Michael B. Jordan

Protagonista de 'Fahrenheit 451' é o ator-fetiche do diretor Ryan Coogler

O diretor Ryan Coogler, em Cannes - Loic Venance/AFP
Guilherme Genestreti
Cannes (França)

Michael B. Jordan, que protagoniza a nova versão de "Fahrenheit 451", é o ator-fetiche do diretor Ryan Coogler.

Em todos os três longas dirigidos pelo californiano, é Jordan quem encarna um tipo de personagem bem afeito ao cineasta: negro do gueto e com uma relação especial com a figura paterna.

"Tivemos uma criação parecida. Ele entendia as minhas referências", disse Coogler, que deu uma palestra durante o Festival de Cannes, na última quinta (10). "Como muitos de meus amigos não tiveram pai, a minha relação com o meu sempre foi diferente."

A reboque do sucesso de "Pantera Negra", o diretor contou com uma plateia lotada, que incluía o músico The Weeknd e 60 estudantes de cinema negros. "Porque é difícil falar em festivais e ver caras que não parecem a sua", comentou, sob aplausos.

​Coogler falou de suas referências cinematográficas, abordou a questão racial no cinema e falou da gênese de suas primeiras obras. Deteve-se mais, é claro, na megaprodução de super-herói com elenco principal 100% negro e que se tornou o longa de maior bilheteria do ano.

 

"Meu pai me contava da época em que se falava que, se os jogadores negros passassem a jogar beisebol, as pessoas deixariam de ir aos estádios. Isso não aconteceu. Com os filmes é a mesma coisa", disse o diretor, que descobriu o herói Pantera Negro na infância, "porque estava cansado de só ver super-herói branco nas HQs".

Quando foi convocado a adaptar a HQ pela Disney, o diretor de 32 anos somava duas comentadas produções: "Fruitvalle Station", sobre a morte de um jovem negro pela polícia, e "Creed", que bota Rocky Balboa como treinador do personagem de Jordan.

Filmar a história de um super-herói africano, contudo, era um passo muito maior. Mas permitiu a Coogler incluir no caldo suas ideias sobre racismo nos EUA e utopia afrofuturista que deram um estofo muito mais complexo a "Pantera Negra" do que há na média dos filmes do gênero.

A fictícia Wakanda, o país africano de arranha-céus e tecnologia de ponta em que a trama é ambientada, é "um misto de esperança e sonho", segundo Coogler. Para concebê-la, pôs os pés no continente pela primeira vez, começando pela Cidade do Cabo.

Ali, conta, fugiu de seu "hotel padrão Disney" e foi beber com os locais. "Na rua, falavam comigo em todos os idiomas dali. Eu via pessoas que eram parecidas com os meus amigos, com as minhas tias."

Quando falou sobre os longas que o marcaram, citou o brasileiro "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Kátia Lund. "Foi a primeira vez que um filme fez com que eu me sentisse em outro país."

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