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Cinema autismo

'Em um Mundo Interior' é uma lufada de esperança para quem lida com o autismo

Filme destaca que convivência com 'normais' faz muito bem também a estas pessoas, não só aos autistas

Luiz Fernando Vianna

Em um Mundo Interior

  • Quando Estreia nesta quinta (31).
  • Classificação Livre
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Flavio Frederico e Mariana Pamplona

Veja salas e horários de exibição.

Para gostar do documentário "Em um Mundo Interior", de Flavio Frederico e Mariana Pamplona (responsáveis pelo importante "Em Busca de Iara", de 2013), uma pessoa que lida com o autismo no seu dia a dia precisa superar dois obstáculos.

O primeiro é o título. Ele ecoa o chavão de que autistas vivem fechados em si mesmos. Na verdade, têm formas particulares de viver no mundo, que é um só.

O segundo é a participação de um respeitado médico, referência no assunto há décadas. Para ele, uma característica-chave do autista é: "O outro não o interessa". Em seguida, lista várias coisas de que um autista não seria capaz. É difícil que terapeutas competentes e pais dedicados endossem, hoje, essa visão inflexível.

O que o restante do filme faz é desmontar essa inflexibilidade. Acompanha seis crianças e um jovem que, bem estimulados, têm evoluído bastante. Há de autistas severos a leves.

Não deixa de incomodar o fato de que todos pertençam a famílias com situação financeira, no mínimo, razoável.

Mas é uma opção legítima. Em vez de mostrar o que não pode acontecer (pessoas isoladas, desacreditadas, acorrentadas), mostra o que deve acontecer. Em vez de denúncias, bons exemplos.

O oitavo personagem é um jovem que esteve sempre numa espécie de jaula. Quando a família deixa que seja atendido por terapeutas, o mundo literalmente se abre para ele.

O filme não é dogmático. Escuta profissionais de várias linhas, todos demonstrando grande conhecimento do que fazem. E destaca um aspecto fundamental: conviver com pessoas típicas ("normais") faz muito bem também a estas pessoas, não só aos autistas. O resultado da convivência são seres humanos tolerantes, generosos, melhores.

O trabalho de Frederico e Pamplona é uma lufada de esperança para quem lida com o autismo e deveria ser um alerta para governos, educadores, médicos, qualquer cidadão.

Quando recebem investimentos e confiança, autistas podem ser imaginativos, sim; interessar-se pelos outros, sim; sair de seu "mundo interior", sim.

Luiz Fernando Vianna é autor de ‘Meu Menino Vadio – Histórias de um Garoto Autista e seu Pai Estranho’
 

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