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Encerrado há 20 anos, 'Seinfeld' abriu a porta para humor inovador

Só nos EUA, 76,3 milhões pararam para assistir ao especial de 1h15, que recebeu críticas negativas

Teté Ribeiro
São Paulo

Há 20 anos, em 14 de maio de 1998, a emissora norte-americana NBC exibiu o último episódio de "Seinfeld", a "série sobre nada" que revolucionou a sitcom e é até hoje um dos marcos da TV mundial. Só nos EUA, 76,3 milhões de pessoas pararam para assistir ao especial de 1h15, que deixava muitas perguntas sem resposta e recebeu críticas negativas.

A despedida mediana não apagou o brilho das nove temporadas, que foram ao ar anos antes do que se convencionou chamar a "era de ouro" da TV. Vistas hoje na ordem, do primeiro ao 190º episódio, como esta repórter tem feito nos últimos meses, ou ao acaso, escolhendo por tema ou memória, mostram que "Seinfeld" continua sendo um dos programas mais inteligentes, espertos e surpreendentes à disposição.

O tal "show sobre nada", que contava o dia a dia de quatro amigos solteiros nova-iorquinos, entre eles o personagem-título, o comediante Jerry Seinfeld, também cocriador da série, era tudo menos isso. Era, isso sim, nada como nenhuma outra coisa que estivesse na programação dos anos 90 ("Seinfeld" estreou em 1989). E continua assim, fato confirmado pela influência sobre outros shows desde então.

Cena do último episódio da série 'Seinfeld'
Cena do último episódio da série 'Seinfeld' - Divulgação

O estilo Seinfeld pode ser encontrado em títulos tão distintos como "Master of None", de Aziz Ansari, "Louie", de Louis C.K., e "Atlanta", além de quase todos os talk-shows cômicos noturnos como "The Daily Show", "Last Week Tonight", do comediante inglês John Oliver, a versão de Jimmy Fallon do tradicional "The Tonight Show", entre outros.

E isso é só na comédia, mas a influência também chega ao drama. Anti-heróis que depois foram amplamente aceitos pelo grande público, como Tony Soprano, de "Os Sopranos", e Walter White, de "Breaking Bad", tiveram seu caminho aberto pelos quatro amigos sem nenhum caráter Jerry, Elaine, George e Kramer.

No episódio derradeiro, os quatro vão a julgamento numa cidadezinha porque veem um homem obeso mórbido sendo assaltado e, em vez de ajudá-lo, fazem piada e filmam a cena. Acabam pegos por um policial porque quebraram a regra local "do bom samaritano". O final não agradou aos criadores do programa.

Jerry diz que se arrepende de ter ido em frente com aquele roteiro, escrito por Larry David, seu parceiro que estava fora desde a sétima temporada. Em uma entrevista posterior, disse que "às vezes acha que realmente não devia ter feito (aquele final)". "Havia uma enorme pressão sobre nós para que fizéssemos um grande último episódio, mas grande é sempre ruim em comédia", ele afirmou.

Larry vai além ao dizer que a experiência foi tão ruim que quase o fez desistir do projeto de "Curb Your Enthusiasm" ("Segura a Onda", no péssimo titulo em português), série da HBO que ele estreou como ator e criador em 2000 e que já completou sua nona temporada, com promessa de voltar para uma décima.

Seja como tenha sido o fim, "Seinfeld" abriu a porta para um tipo de humor inovador, criativo e sempre com um lado dark. Nos 190 episódios, os quatro protagonistas fazem coisas como roubar o pão de uma velhinha, trocar a namorada por uma sopa, deixar o carro no estacionamento do trabalho para enganar os chefes, derrubar crianças e idosos numa festinha infantil para escapar de um incêndio.

A genialidade do seriado eram os roteiros, com quatro tramas paralelas, uma para cada personagem, que se encontravam de maneira inesperada e sempre, sempre, muito engraçada. Além disso, tinha as definições mais divertidas para as coisas do dia a dia. Sexo era um assunto recorrente, os quatro namoraram sem parar durante os nove anos e, apesar de discutir detalhes, usavam sempre um jeito de falar que era transparente sem ser explícito.

"Seinfeld" ter 20 anos é uma tristeza, já que nada melhor surgiu desde então, mas nem tudo está perdido. Recentemente todos os episódios foram colocados na Apple TV, e nada cura um dia médio ou ruim como dois ou três episódios antes de dormir.

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