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Cinema

'Entre-Laços' transpõe questão trans da marginalidade para universo familiar

Filme tece múltiplos temas da agenda contemporânea buscando o equilíbrio entre didatismo e emoção

Filme Entre-laços
Cena de 'Entre-Laços', dirigido por Naoko Ogigami - Divulgação

Entre-Laços (Karera ga honki de amu toki wa)

  • Quando Estreia na quinta (10)
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Tôma Ikuta, Rin Kakihara, Kenta Kiritani
  • Produção Japão/França, 2017
  • Direção Naoko Ogigami

A presença do tricô como metáfora da narrativa e como elemento da trama é a garantia mais clara, e não única, de que “Entre-Laços” é um daqueles filmes concebidos para transmitir fofura.

O sétimo longa da diretora japonesa Naoko Ogigami reúne os ingredientes para agradar, sem incomodar, o público em busca de valores corretos, tais como respeito à diversidade sexual, carinho com as crianças e atenção aos idosos.

No centro de tudo, está Tomo, uma garota de 11 anos presa a um cotidiano de abandono. Sozinha em casa, ela se alimenta somente com lanches prontos e espera ansiosa a mãe, que chega bêbada, apaga e deixa a garota para lá.

Logo a mãe some e Tomo é acolhida pelo tio, que agora vive com Rinko, uma namorada que a menina acha diferente, até descobrir se tratar de uma trans.

A partir desse material, “Entre-Laços” tece múltiplos temas da agenda contemporânea buscando o equilíbrio entre didatismo e emoção.

Enquanto as figuras maternas ganham contornos negativos, como mulheres egoístas ou moralistas, a personagem trans acumula toda a capacidade de afeto, tornando-se um condensado de positividade.

Da mesma forma, todas as outras possibilidades de subversão e de desvio da norma são amortecidas para “Entre-Laços” difundir sua mensagem genérica.

A angústia e o desespero de um garoto que se descobre gay conduzem a um ponto quase trágico, mas o filme abranda a crise com um simbólico gesto de aceitação.

Qualquer possibilidade de crise no momento da autodescoberta de Rinko na adolescência é, por sua vez, anulada pelo fato de sua mãe ser compreensiva, capaz de acompanhar e estimular a transição do filho.

Ou seja, se o filme oferece uma inegável contribuição positiva à questão trans, tirando-a da marginalidade para inseri-la no universo familiar, dos afetos interparentais, em troca apagam-se os conflitos internos e externos de Rinko, personagem potencialmente rica em contradições.

A simplificação, no entanto, é uma escolha que permite ao filme ir além do nicho LGBT, dosando sua mensagem positiva para um público família que não quer ser incomodado com conteúdos sexuais e pode ser seduzido com simpatia.

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