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Espetáculo de dança da ColetivA Ocupação retrata as ocupações dos secundaristas

'Quando Quebra Queima' estreia nesta sexta (4), na Casa do Povo, em São Paulo

Iara Biderman
São Paulo

Os integrantes da ColetivA Ocupação só acreditam em um revolução em que possam dançar. Por isso e para isso, construíram com dança, música e poesia o espetáculo “Quando Quebra Queima”, que estreia nesta sexta (4), na Casa do Povo, em São Paulo.


A ColetivA (assim mesmo, no feminino maiúsculo) nasceu do encontro entre estudantes e artistas que se conheceram durante as ocupações das escolas da rede pública estadual por secundaristas.


Entre o final de 2015 e começo de 2016, estes alunos organizaram um movimento por mais qualidade na educação pública, iniciado com os protestos contra a reorganização dos ciclos de ensino anunciada pela gestão Geraldo Alckmin.


Das manifestações de rua, os jovens passaram a ocupar suas escolas e, em 15 dias, mais de 151 unidades da rede estadual estavam tomadas.


A onda culminou na ocupação do Centro Paula Souza, que administra escolas técnicas de São Paulo. A estreia de “Quando Quebra Queima”, a história dançada deste movimento, ocorre quando o pedido de reintegração de posse do Centro completa dois anos.


O espetáculo sintetiza em 14 corpos a história de mais de 3.000 estudantes, vivida por todos que estão em cena.


A ColetivA se formou no que eles chamam a era paleolítica do movimento, quando vários grupos e artistas se apresentaram nas escolas em apoio aos estudantes.


Entre eles, a diretora Martha Kiss Perrone, que apresentou a peça “Rózà”, sobre a vida da ativista Rosa de Luxemburgo (1871-1919), nas unidades ocupadas. Das rodas de conversas após as apresentações, surgiu um grupo de teatro.

Como arte e luta não estão dissociadas, segundo Ícaro Bio, 19, ex-secundaristas, as reflexões do grupo sobre o que aconteceu depois que pularam os muros resultou em uma performance.


“A performance era uma revolução dançada e um jeito de contar o que estava acontecendo. Todo mundo falava sobre o movimento secundarista de fora, era uma forma de nós mesmos mostrarmos o que estávamos vivendo”, diz Beatriz Camelo, 18.


Ela, Ícaro e todos os outros integrantes do grupo foram muito ativos durante as ocupações. “Todo mundo aqui já foi detido alguma vez”, diz.


Desde que o grupo se formou, eles também foram aplaudidos nas apresentações em escolas, na Matilha Cultural, na programação paralela da MITsp, entre outros locais.


O novo espetáculo também serve para contar e reelaborar os acontecimentos de dois anos atrás. E de continuar ocupando espaços.


No segundo andar da Casa do Povo, em um salão que já foi usado para a hora do recreio de uma escola de ensino fundamental, eles recriam o corpo coletivo e as individualidades que, nas palavras de Ícaro, “fizeram a porra toda acontecer”.


O espaço de atuação, fora da caixa preta do teatro convencional, é aproveitado para fazer os espectadores também entrarem em movimento.


Dançar surge naturalmente como forma de expressão. “Durante as manifestações, o jeito que eles caminhavam, fechavam as ruas, já eram coreografias”, diz a diretora.


Além da dança, “Quando Quebra Queima” também reinterpreta as palavras de ordem, as falas em coro das manifestações: “Pessoal, jogral!”.


O jeito como o grupo trabalha reflete a forma como o movimento estudantil se organizou, com poucas hierarquias e muitas comissões de trabalho –na época das ocupações, elas cuidavam da segurança, da limpeza ou da comunicação; na montagem da peça, foram criadas comissões de figurino, som ou maquiagem, por exemplo.


Tudo unido com poesia, rap, funk. Teve muita luta, mas também muita festa, afirmam os participantes da peça e das ocupações.

 

QUANDO QUEBRA QUEIMAQUANDO

4, 5, 6 e 13/5, às 19h, Casa do Povo, r. Três Rios, 252, tel.(11) 3227-4015, de R$ 10 a R$ 20; secundarista não paga

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