Descrição de chapéu

Exposição com 338 obras faz ótimo apanhado do Brasil não cordial

Mostra traça panorama visual de 75 anos do uso da violência para resolução de conflitos

Fabio Cypriano
São Paulo

Conflitos: Fotografia e Violência Política no Brasil 1889-1964

  • Quando até 29/7, de ter. a dom., das 10h às 20h, qui. até 22h.
  • Onde IMS (Instituto Moreira Sales), av. Paulista, 2.424, tel. (011) 2842.9120
  • Preço grátis

Raramente se vê em um museu brasileiro uma pesquisa tão densa e impactante como a realizada para a exposição "Conflitos: Fotografia e Violência Política no Brasil 1889-1964", em cartaz no Instituto Moreira Salles, em São Paulo.

Em 338 obras, a mostra com curadoria de Heloisa Espada traça um panorama visual de 75 anos "do protagonismo das elites sociais no uso da violência como forma de resolução de conflitos", escreve no catálogo da mostra Angela Alonso, presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e colunista da Folha.

Aliás, outro grande mérito da mostra é o catálogo, com textos didáticos e aprofundados sobre cada um dos conflitos, resultando em ótimo manual da história do Brasil não cordial, derrubando de vez o mito da cordialidade nacional.

 

"Conflitos" tem três partes: A República da Degola (1889-1916); A República dos Bombardeios (1923-35); As Ruas da República (1954-64).

 

Não se trata, contudo, de exposição entediante por seu caráter um tanto enciclopédico, já que além da perspectiva histórica trata da transformação da linguagem fotográfica de maneira física.

Nela, é possível conhecer desde aparatos complexos como as "projeções photo-elétricas", ou lanternas mágicas, usadas por Flávio de Barros para exibir de forma sensacionalista imagens da Guerra de Canudos (1896-1897), até álbuns com cabeças degoladas na Revolução de 1932.

Em todo conflito, como atesta a mostra, a narrativa é estratégia essencial para a conquista de adeptos, e fotografias foram sistematicamente utilizadas para glorificar o vencedor, como se percebe já na primeira imagem que abre a exposição.

Nela, um grupo de militares tem no centro o cabo e carrasco Sebastião Juvencio, que olha diretamente para a câmera enquanto segura a cabeça de um rebelde, prestes a ser degolado no Paraná, em 1894. A barbárie, aqui, é vista sem vergonha.

Constata-se ainda como narrativas oficiais passam a ser questionadas pelos fotojornalistas, com imagens nem sempre favoráveis ao poder.

Ao mesmo tempo, esses fotógrafos e empresas de comunicação também são postos em xeque, a exemplo da imagem de carros do jornal O Globo tombados pela população, em 1954, após o suicídio do presidente Getúlio Vargas.

Apesar de terminar no golpe civil-militar de 1964, a mostra revela muito sobre o Brasil atual, e aí está outro de seus méritos: tratar do passado para melhor entender o presente tão polarizado do país.

A conclusão não pode ser outra além da constatação de que conflito sempre existiu, a violência é parte do cotidiano, e o país está longe de qualquer pacificação.

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