Descrição de chapéu artes plásticas

Exposição cria ambiente de imersão no universo da terceira idade

Em atividades, visitantes experimentam características comuns à velhice

Stephanie Ricci
São Paulo

Subir escadas com 5kg a mais em cada perna, jogar videogame vestindo luvas e tentar encaixar uma chave na fechadura com um bracelete que treme ao redor do braço. Não é mais preciso esperar décadas para sentir na pele os efeitos do envelhecimento.


Buscando encurtar distâncias entre jovens e idosos, a exposição interativa “Diálogo com o Tempo”, que está exposta na Unibes Cultural, cria um ambiente de imersão no universo da terceira idade. 


Por meio de diversas atividades desenvolvidas por cientistas, os visitantes experimentam características comuns à velhice, como a perda progressiva da audição, a redução da sensibilidade tática e a perda parcial de sinapses cognitivas. 


Além dos aspectos físicos, a sociabilização a partir dos 60 também é abordada. Todos os guias têm entre 66 e 80 anos e apresentam ao público sua trajetória de vida, partilhando impressões sobre a sua idade e estimulando debates entre os participantes sobre o papel social do idoso.

Quando o crachá entregue na entrada apita, o visitante deve sentar por três minutos no “banco dos aposentados” enquanto os outros continuam a programação. 


“É uma experiência social. Todos nós vamos envelhecer, mas isso não é uma coisa triste. Os monitores trazem essa perspectiva. São pessoas engajadas, que fogem desse estereótipo de que ser velho é não ter papel ativo na sociedade. O ambiente é para trazer entendimento, é um trabalho de empatia frente à experiência do outro”, diz Bruno Assami, diretor executivo da Unibes Cultural.


O Brasil tem hoje 29,6 milhões de pessoas acima dos 60 anos. Estima-se que, em 2060, o número de brasileiros com 65 anos ou mais será três vezes maior que o atual, compondo um terço da população.

“O Brasil vem aumentando rapidamente o seu número de idosos, é o sétimo índice de envelhecimento mais rápido do mundo. Por via de regra, essa situação é mundial. Ano passado, na Alemanha, havia mais gente acima dos 70 anos que abaixo dos 17. Essas pessoas não querem mais ser deixadas para escanteio, querem poder ser protagonistas e estão prontas para isso”, diz Andreas Heinecke, idealizador da exposição.


Chaya Ute Zinderstein, 71, é uma dos 18 monitores selecionados a partir de um processo que envolveu mais de 3000 inscritos e duas semanas de treinamento. Prestes a lançar seu primeiro livro, ela diz que a exposição é um atalho para o auto entendimento e um exercício de auto-valorização.


“É uma atividade de se colocar no lugar do outro, de mostrar para as pessoas mais jovens a nossa visão de mundo, mas também de fazer o próprio idoso refletir sobre a sua imagem. Muitas vezes ele é carregado por estereótipos e tem sua autoestima baixa, não se preocupa em usar sua experiência para desenvolver todo o potencial que ele carrega nessa idade”, explica.


“Anos atrás se morria com 50 anos, agora chegamos aos 70, 80 e mais. Precisamos criar a consciência de que envelhecer é um privilégio”, diz Heinecke. “É como dizia um ditado que ouvi: quando um homem velho morre, uma biblioteca inteira se queima”.

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