Festival América do Sul Pantanal ferve com atrações do samba ao rap indígena

Evento reuniu música, cinema, teatro, dança, circo e outras atrações de dez países

Thales de Menezes
Corumbá (MS)

Enquanto o resto do Brasil fervia estagnado durante a greve dos caminhoneiros, uma ilha de diversão e cultura se estabeleceu em Corumbá, na divisa do Mato Grosso do Sul com a Bolívia. A 14ª e mais ambiciosa edição do Festival América do Sul Pantanal cumpriu suas expectativas.

Desde quinta (24) até o último domingo, foram quatro dias de música, cinema, teatro, dança, circo e outras atrações vindas de dez países sul-americanos. Tudo correu com ótima presença de público e sem falhas técnicas ou atrasos, algo fundamental em um evento espalhado por vários palcos e salas em quatro cidades (além de Corumbá, a vizinha Ladário e as bolivianas Puerto Quijarro e Puerto Suárez).

A praça Generoso Ponce, onde shows noturnos concentraram o público que durante o dia se espalhou pela região, ficou lotada. Ali estavam as atrações mais aguardadas: Martinho da Vila, Criolo, Daniela Mercury e Roberta Miranda.

Fechando o sábado, Daniela Mercury alcançou o maior público, que oscilou entre 10 mil e 15 mil pessoas por noite. E a cantora baiana pareceu contagiada pela multidão. Seu show se estendeu por mais de duas horas, entrando pela madrugada com um caminhão de hits que inclui até covers da Legião Urbana.

Martinho da Vila, no primeiro dia, e Roberta Miranda, encerrando o festival no domingo, levaram à praça uma plateia mais madura e com todas as músicas na ponta da língua. Mas a noite musicalmente mais empolgante foi na sexta, diante de um público muito jovem e ruidoso.

O grupo de rappers Brô MC's, composto de índios de Dourados (MS), exibiu fúria e empolgação. Cantando em português e em guarani, eles gritaram palavras de ordem pedindo respeito às etnias indígenas e fizeram isso com um repertório consistente, de bases rítmicas variadas.

Foi possível entender o sucesso emergente do grupo, até fora do país. O Brô MC's acaba de retornar de uma turnê na Alemanha. E essa apresentação pesada fez ótima introdução para a presença de Criolo. Embora tenha ido ao Pantanal com seu show versão MC, com menos complexidade musical do que seus shows com banda, os hinos hip hop do cantor paulistano bateram forte nos jovens fãs. E sobra carisma a Criolo.

Os nomes principais foram foco das atenções do público local, mas aos turistas as atrações menos conhecidas foram surpreendentes. O sul-mato-grossense Fabio Kaida fez uma apresentação empolgante que mostrou a quem não conhecia a harpa paraguaia a força pop do instrumento.

E ninguém ficou parado no show da banda colombiana Puerto Candelaria. Um furacão de cumbia e outros ritmos dançantes, com músicos excelentes e uma vocalista que lembra uma Mallu Magalhães com DNA latino. O grupo tem tudo para ganhar público no Brasil inteiro.

Fora da música, muito sucesso popular do Circo Medellín e um instigante momento teatral do grupo boliviano Kinkteatr em "Romeo y Julieta de Aramburo", uma visão violentíssima e sensual dos personagens de Shakespeare.

O jornalista viajou a convite do festival

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